Em 2014, Júlio França, professor associado de Teoria da Literatura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e Luciana Colucci, professora associada da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, observando o crescente interesse despertado pela literatura gótica na universidade brasileira, propuseram a organização de um grupo de pesquisa integralmente dedicado aos estudos “goticistas” e às suas vertentes tanto na literatura como nas artes em geral.
A ideia foi abraçada imediatamente pelos professores Alexander Meireles da Silva (UFG/Regional Catalão), Aparecido Rossi (Unesp/FclAr), Claudio Zanini (UFRGS), Daniel Serravalle de Sá (UFSC), Fernando Monteiro de Barros (UERJ), Flavio García (UERJ) e Marisa Martins Gama-Khalil (UFU), dando corpo ao Grupo de Pesquisa Estudos do Gótico, chancelado pelo CNPq.
Ainda em 2014 realizou-se o I Seminário de Estudos sobre o Gótico (I SEG), na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM/Uberaba-MG), sob a coordenação de Luciana Colucci. Com ampla adesão dos membros, de discentes e do público – provenientes de diversos estados brasileiros –, esse evento foi decisivo para a disseminação de estudos que contemplassem o Gótico em suas múltiplas vertentes e nas mais variadas mídias.
O sucesso do primeiro evento tornou possível a realização do II SEG, em 2017, em conjunto com o VI Simpósio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários (VI SELL), também na Universidade Federal do Triângulo Mineiro e sob a coordenação de Luciana Colucci. Nessa segunda edição foi celebrado o tricentenário de Horace Walpole (1717-1797), man of letters, e autor de O Castelo de Otranto (1764), obra considerada a gênese da literatura gótica.
A importância do autor e da obra não é apenas seminal: a maquinaria gótica presente na narrativa de Otranto foi reaproveitada e reelaborada por outros escritores que, ao longo dos últimos séculos, adaptaram-na a contextos históricos e geográficos diferentes e originaram narrativas góticas responsáveis por manter viva a herança walpoliana.
O presente dossiê é fruto das profícuas discussões que tiveram lugar no II SEG, e que se materializam nesta edição. Os matizes teóricos e as abordagens críticas aqui reunidas contribuem para a firme defesa de um gênero que, muito embora encontre ainda certa resistência em meio à “alta” crítica, firmou-se como uma tradição responsável por expressar e representar o Mal e o medo na forma de narrativas ficcionais.