O livro Imaginários Distópicos: Metáforas E Ficções responde à revisitação das previsões distópicas do século XX.
A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos da América, os fenómenos do populismo, da vigilância, da contrainformação e das denominadas “fake news” chamaram a atenção para retratos distópicos formulados no século XX, que alguns autores consideraram adequados à reflexão sobre as novas patologias da democracia e da comunicação política.
O conhecido jornal Huffington Post publica um blog do teórico marxista da Comunicação Christian Fuchs, onde se analisa o estilo de liderança de Donald Trump a partir da obra de Theodore Adorno.
O The Guardian recorreu à Escola de Frankfurt para analisar a agora famosa “alt right” associada ao nome de Steve Bannon. Os ensaios de Neil Postman foram frequentemente referidos a propósito da vigilância e do info-entretenimento.
Alguns dos títulos prestigiados do jornalismo literário e ensaísmo como a New York Review of Books incluíram ensaios nos quais se especulava sobre qual seria o livro que melhor antecipava as formas de intervenção política no contexto mediático, a propósito de fenómenos como as “fake news” e a famosa pós-verdade: 1984 de George Orwell ou Brave New World de Aldous Huxley?
As tabelas de vendas registraram um acréscimo substancial no sucesso destas duas obras. Os ensaios sobre a linguagem de George Orwell foram invocados, na imprensa tradicional, a propósito dos fenómenos de manipulação mediática.
Finalmente, a ficção televisiva inaugurou ela própria um filão de séries de qualidade que apontavam para um retrato distópico da comunicação política contemporânea, tendo em “Mr. Robot” e “Black Mirror” os casos mais evidentes.
Assim, solicitou-se aos participantes que recorressem a fontes contemporâneas ou clássicas que configurem visões distópicas associadas aos processos de mediatização social e que hoje revelem ainda alguma forma de atualidade em relação aos fenómenos contemporâneos.
Como exemplos dessas fontes e referências podem citar-se: metáforas de natureza distópica como o panótico; literatura ficcional distópica, desde “Frankenstein” de Mary Shelley ou “Dr. Jeckyll e Mr Hyde” de Robert L.
Stevenson, paradigmáticos das primeiras reações à investigação científica
e ao progresso tecnológico, a obras como “Animal Farm” ou “1984” (George
Orwell), “Brave New World” (Aldous Huxley), “We” (Yevgeny Zamyatin),
“Fahrenheit 451” (Ray Bradbury), até às novelas mais recentes como “The
Handsmaid’s Tale” (Margaret Atwood); artes visuais nas suas mais diversas
formas ficcionais incluindo séries, filmes e BD.
Pretendeu-se, assim, mobilizar contributos clássicos e contemporâneos que, a partir dos olhares das Ciências da Comunicação, da Teoria Crítica, dos Estudos Fílmicos, das Artes e dos Estudos Literários, permitam abordar elementos da nova paisagem política contemporânea marcada, entre outros fenómenos sociais, pela presença dos media digitais.