
Em Primeiros Passos De Um Crítico Cultural, Osmar Moreira tem como escopo a produção literária brasileira do século XX. Contudo, a largueza de sua abordagem permite uma vereda pela poesia de Gregório de Mattos, de Alberto Caeiro, pela poética da música de Caetano Veloso, e além.
A escolha do corpus atesta um primeiro passo, dos muitos que este livro percorre, o olhar de conjunto sobre a longa duração que é o século XX, para usar livremente uma expressão de Fernand Braudel, situado em obras específicas, um poema, um conto, um romance.
Aqui, a duração e seu conjunto não são panorâmicos, transcendentes, são históricos, locais. Em seu todo o livro nos mostra uma leitura sobre a literatura brasileira no século XX e sobre um de seus precursores, Gregório de Mattos, mas esta leitura se situa ao nível de análises pontuais, de leituras “exaustivas” de um objeto cultural particular.
Se não aceita o devir histórico como transcendência fantasmal que tudo habita e tudo resume, tampouco paralisa o olhar no fetichismo do artefacto, no discurso autolegitimador da obra em si e por si mesma.
Trata-se de um percurso que é antes de tudo feito de constelações, políticas, econômicas, técnicas e tecnológicas, étnicas, discursivas, apreendidas num objeto que a leitura do crítico mosaica em diversas veredas de olhares.
O Poema De Sete Faces de Drummond é o primeiro exercício e em muitos aspectos sua síntese. Disto decorre um outro passo, trata-se de um livro de análise literária, eu diria um tanto tradicionalmente, mas análises que eu prefiro chamar hoje de “literais”.
Literais porque estamos adestrados, depois da chamada virada cultural, a abordagens culturalistas, que privilegiam os conteúdos em detrimento das especificidades dos objetos e das culturas. Fazer como faz o marceneiro no trato com a madeira não tem sido muito comum depois dos discursos do pós e após.
Osmar Moreira mantém, penso eu, a positividade das abordagens poéticas, analíticas, do texto literário e cultural. Sua prática nos livra do vício de, a despeito das diferenças, os objetos nos dizerem sempre a mesma coisa.
Sua crítica aos estruturalismos e aos formalismos, que perpassam diversos dos artigos aqui incluídos, não abre mão das contribuições que as semióticas da literatura nos legaram, e que o livro nos mostra na prática.
