Liev Tolstói – Hadji-Murat
Tolstói escreveu Hadji-Murat entre 1896 e 1904 em sucessivos rascunhos, mas a novela manteve-se inédita até à sua morte.
A narrativa decorre durante as campanhas do Império Russo contra os muçulmanos das montanhas e florestas caucasianas. Como chefe guerreiro, Hadji-Murat tornou-se lendário muito antes da sua morte em combate.
História e memória são as matérias-primas desta narrativa que põe em cena o líder rebelde caucasiano Khadji-Murát em sua luta contra a incorporação da Tchetchênia e do Daguestão pelos russos.
A região até hoje é foco de instabilidade política, o que dá surpreendente atualidade a este livro publicado em 1910, ano da morte do escritor.
Foi no agreste Cáucaso que o jovem Liev Tolstói serviu como oficial do exército, décadas antes; a experiência repercutiria em seus últimos dias, quando o escritor, agora um ativista em prol dos perseguidos pelo regime czarista, voltou a interessar-se por aquele povo infenso à dominação imperial.
Estamos em território russo, mas o cenário não é aquele a que estamos habituados. Não se trata dos personagens aristocráticos que falam francês e desfilam pelos salões de Moscou e Petersburgo, nem de soldados, mujiques e outros tipos populares eslavos que povoam as narrativas de Tolstói.
O escritor aqui é um orientalista que se mostra fascinado pela marca da cultura islâmica em pleno Império Russo, e que está simbolizada na capa do livro, com a imagem de uma espada curva que mimetiza o Crescente. A espada, típica dos guerreiros da região, faz parte do acervo do Museu Hermitage.
“Hesitamos em colocar Hadji-Murat acima de todas as outras realizações de Tolstói no domínio da novela, um gênero em que ele se notabilizou e que inclui obras tão extraordinárias quanto A Morte de Ivan Iliitch, Senhor e Servidor, O Diabo, Os Cossacos, A Sonata de Kreutzer e O Padre Sérgio.
Contudo, nem mesmo as duas primeiras obras desta lista me impressionam tanto quanto Hadji-Murat me tem impressionado desde que a li pela primeira vez, há mais de quarenta anos.
Ela é a minha pedra-de-toque pessoal para o sublime da prosa de ficção; aquela que considero ser a melhor história do mundo, ou pelo menos a melhor que eu li até hoje.”
Harold Bloom
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