Ensaios Sobre Epistemologia Do Testemunho

É inegável que ao longo de nossas vidas quotidianamente formamos crenças a partir do que nos é dito por outras pessoas.
Normalmente essa prática é considerada racional e as crenças originadas nela são frequentemente verdadeiras, de modo que o testemunho constitui uma valiosa e indispensável fonte de conhecimento.

Somos epistemicamente dependentes no que refere à obtenção de conhecimento sobre assuntos variados, desde tópicos especializados tais como descobertas científicas e inovações tecnológicas, até assuntos corriqueiros, como uma prescrição médica, uma receita de bolo ou dados de nossa história pessoal. A epistemologia do testemunho, enquanto subárea da epistemologia, se ocupa de questões sobre a natureza do testemunho e as condições para a aquisição de crença justificada, e eventualmente conhecimento, a partir do que outras pessoas nos reportam.
A racionalidade das crenças baseadas no testemunho é uma questão epistemológica de destaque na atualidade e de respeitável história. Dois importantes filósofos, apesar de divergirem em alguns aspectos, defenderam a relevância do testemunho na aquisição de crenças racionais. Assumindo um viés reducionista, David Hume considerou que as crenças formadas com base no testemunho de outras pessoas só são racionais se o ouvinte dispuser de razões em favor da credibilidade e confiabilidade dessas pessoas. Nesta perspectiva a justificação de crenças testemunhais dependeria sempre de alguma outra fonte, como a percepção, o raciocínio ou a memória. Discordando da posição de Hume, para Thomas Reid o testemunho goza de uma pressuposição de credibilidade, de modo que seria racional crer no que os outros nos dizem, mesmo sem qualquer indicação de sua confiabilidade, desde que também não haja algum indício de inconfiabilidade do testemunho em questão.
Essas duas perspectivas continuam presentes na literatura epistemológica contemporânea, tanto no debate entre reducionistas e antirreducionistas quanto às condições nas quais o ouvinte é racional ao aceitar determinado testemunho, quanto no debate sobre se é fonte de transmissão ou de geração de conhecimento e justificação. A questão da normatividade da crença testemunhal é de central importância, polarizando as duas posições anteriormente mencionadas. Na visão reducionista a qualificação epistêmica positiva de crenças testemunhais requer que o ouvinte possua razões positivas e independentes de outros testemunhos a favor da confiabilidade do testemunho. Sendo assim a racionalidade de crenças testemunhais depende de outra(s) fonte(s) de conhecimento e justificação, e todo o encargo epistêmico é colocado nos ombros do ouvinte. Já o antirreducionismo entende que a crença que o ouvinte forma com base no testemunho é sempre justificada, salvo tenha razões em contrário quanto à presunção de honestidade e competência do falante no que concerne o assunto em questão. Para o antirreducionismo, os testemunhos possuem força epistêmica própria dado que a confiança no relato testemunhal é a posição default.

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É inegável que ao longo de nossas vidas quotidianamente formamos crenças a partir do que nos é dito por outras pessoas.
Normalmente essa prática é considerada racional e as crenças originadas nela são frequentemente verdadeiras, de modo que o testemunho constitui uma valiosa e indispensável fonte de conhecimento. Somos epistemicamente dependentes no que refere à obtenção de conhecimento sobre assuntos variados, desde tópicos especializados tais como descobertas científicas e inovações tecnológicas, até assuntos corriqueiros, como uma prescrição médica, uma receita de bolo ou dados de nossa história pessoal. A epistemologia do testemunho, enquanto subárea da epistemologia, se ocupa de questões sobre a natureza do testemunho e as condições para a aquisição de crença justificada, e eventualmente conhecimento, a partir do que outras pessoas nos reportam.
A racionalidade das crenças baseadas no testemunho é uma questão epistemológica de destaque na atualidade e de respeitável história. Dois importantes filósofos, apesar de divergirem em alguns aspectos, defenderam a relevância do testemunho na aquisição de crenças racionais. Assumindo um viés reducionista, David Hume considerou que as crenças formadas com base no testemunho de outras pessoas só são racionais se o ouvinte dispuser de razões em favor da credibilidade e confiabilidade dessas pessoas. Nesta perspectiva a justificação de crenças testemunhais dependeria sempre de alguma outra fonte, como a percepção, o raciocínio ou a memória. Discordando da posição de Hume, para Thomas Reid o testemunho goza de uma pressuposição de credibilidade, de modo que seria racional crer no que os outros nos dizem, mesmo sem qualquer indicação de sua confiabilidade, desde que também não haja algum indício de inconfiabilidade do testemunho em questão.
Essas duas perspectivas continuam presentes na literatura epistemológica contemporânea, tanto no debate entre reducionistas e antirreducionistas quanto às condições nas quais o ouvinte é racional ao aceitar determinado testemunho, quanto no debate sobre se é fonte de transmissão ou de geração de conhecimento e justificação. A questão da normatividade da crença testemunhal é de central importância, polarizando as duas posições anteriormente mencionadas. Na visão reducionista a qualificação epistêmica positiva de crenças testemunhais requer que o ouvinte possua razões positivas e independentes de outros testemunhos a favor da confiabilidade do testemunho. Sendo assim a racionalidade de crenças testemunhais depende de outra(s) fonte(s) de conhecimento e justificação, e todo o encargo epistêmico é colocado nos ombros do ouvinte. Já o antirreducionismo entende que a crença que o ouvinte forma com base no testemunho é sempre justificada, salvo tenha razões em contrário quanto à presunção de honestidade e competência do falante no que concerne o assunto em questão. Para o antirreducionismo, os testemunhos possuem força epistêmica própria dado que a confiança no relato testemunhal é a posição default.

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