
Como boa historiadora da educação, e de sensibilidade apurada, Evelyn Orlando evocou Tucídides e incorporou, num ambiente francófono e cosmopolita, a experiência de uma testemunha ocular do seu tempo. Parte do que vivenciou, traduziu em imagens e, mediada por equipamentos técnicos, da câmera fotográfica digital ao smartphone, criou produtos visuais que, a partir de diferentes usos e funções sociais, se tornarão dispositivos de memória numa temporalidade que fica logo ali.
Chamou-lhe atenção, e a visão, a ausência de transeuntes numa Paris comumente movimentada, marcada por um ritmo próprio de seu cotidiano, em pulsão por aqueles que nela vivem ou por ela passam. Comércios locais com filas ordenadas, marcadas pelo distanciamento social, pontos turísticos sem a presença massiva de visitantes, motos e carros estacionados sem condutores. Imagens sinestésicas de uma Paris que evocou o silêncio.
A experiência visual de Evelyn Orlando é mais que válida, e deve ser constantemente incentivada. A filósofa Susan Sontag, em Sobre a fotografia, afirmou que “fotografar é apropriar-se da coisa fotografada”, caracterizando-se como uma forma de o indivíduo estabelecer uma determinada relação de si para com o mundo em questão.
Os Dias Que Paris Ficou Em Silêncio: Memórias Em Fotografia Do Cotidiano Na Pandemia De COVID-19 constitui-se numa forma particular de expressão e de apropriação da autora diante da cidade, da experiência e das circunstâncias inéditas que a vida a levou a experimentar nesta imersão de pós-doutorado. Se “colecionar fotos é colecionar o mundo”, Evelyn Orlando guardou de forma muito particular e gentilmente compartilhou um pouco deste mundo conosco através de seus fragmentos visuais.
Merci chérie! Fez-nos encontrar beleza pela contemplação, quando nos sentíamos inseguros e cheios de incertezas. Fez-nos até mesmo esquecer, por alguns instantes, os difíceis momentos que ainda vivenciamos em 2021. Sou grato por esta viagem visual, fotográfica e sinestésica, e que me permitiu sonhar com novas incursões, preferencialmente nada silenciosas, quando por tudo isso passarmos.
