Rodas De Fumo: O Uso Da Maconha Entre Camadas Médias

A maconha (Cannabis sativa) é provavelmente a substância
psicoativa ilegal de uso mais difundido no Brasil. Embora não se disponha de um conjunto ordenado de informações estatísticas a respeito do nível de seu consumo entre os vários estratos populacionais do País

, vários levantamentos parciais indicam que esta é uma prática disseminada especialmente entre os jovens.
A relevância da questão, entretanto, não tem sido acompanhada de uma correspondente destinação de recursos e esforços para investigar e conhecer melhor todos os complexos aspectos de que se reveste o fenômeno. Enquanto “droga”, a maconha é tratada em termos quase sempre negativos, como “causa” de distúrbios físicos, psicológicos e morais, como mal a ser extirpado. Assim, procura-se apenas investir na repressão ao tráfico e na elaboração de campanhas preventivas visando manter o usuário potencial ou regular afastado do “perigo”. A julgar, porém, pelas declarações dos próprios órgãos repressivos e preventivos, tal estratégia tem se revelado incapaz de atingir o objetivo proposto de eliminar a oferta da canabis, assim como de outros psicotrópicos ilícitos.
Uma dificuldade básica reside em que a discussão sobre as “drogas” é carregada de emoções e valorações. Nem poderia ser diferente, visto que as experiências e as questões levantadas pelas substâncias psicoativas parecem resvalar em sentimentos profundos das pessoas: medos e esperanças. Em boa medida, a tendência para apresentar as “drogas” indiferenciadamente como as causas primeiras de estados maléficos percebidos como associados a seu uso é fruto desse grande envolvimento emocional.
Nessa lógica, as substâncias psicoativas em si mesmas tornam-se o fundamento de todo o chamado “problema da toxicomania”, e se supõe que a solução para tanto está na eliminação das possibilidades de acesso a elas.
Ora, insistir em ver a “droga” necessariamente como um mal é desconhecer um dado elementar: as pessoas têm parte ativa na busca destas substâncias. A motivação para querê-las está obviamente ligada aos efeitos que elas podem desencadear. Na verdade, o uso de psicoativos constitui um meio entre outros para experimentar alterações na consciência ordinária de vigília - talvez a mais antiga, persistente e difundida técnica nesse sentido, encontrável nas mais diversas culturas humanas. Discutir a questão das “drogas” entre nós remete, portanto, ao problema dos sentidos atribuídos a estados alterados de consciência em nossa cultura.

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A relevância da questão, entretanto, não tem sido acompanhada de uma correspondente destinação de recursos e esforços para investigar e conhecer melhor todos os complexos aspectos de que se reveste o fenômeno. Enquanto “droga”, a maconha é tratada em termos quase sempre negativos, como “causa” de distúrbios físicos, psicológicos e morais, como mal a ser extirpado. Assim, procura-se apenas investir na repressão ao tráfico e na elaboração de campanhas preventivas visando manter o usuário potencial ou regular afastado do “perigo”. A julgar, porém, pelas declarações dos próprios órgãos repressivos e preventivos, tal estratégia tem se revelado incapaz de atingir o objetivo proposto de eliminar a oferta da canabis, assim como de outros psicotrópicos ilícitos.
Uma dificuldade básica reside em que a discussão sobre as “drogas” é carregada de emoções e valorações. Nem poderia ser diferente, visto que as experiências e as questões levantadas pelas substâncias psicoativas parecem resvalar em sentimentos profundos das pessoas: medos e esperanças. Em boa medida, a tendência para apresentar as “drogas” indiferenciadamente como as causas primeiras de estados maléficos percebidos como associados a seu uso é fruto desse grande envolvimento emocional.
Nessa lógica, as substâncias psicoativas em si mesmas tornam-se o fundamento de todo o chamado “problema da toxicomania”, e se supõe que a solução para tanto está na eliminação das possibilidades de acesso a elas.
Ora, insistir em ver a “droga” necessariamente como um mal é desconhecer um dado elementar: as pessoas têm parte ativa na busca destas substâncias. A motivação para querê-las está obviamente ligada aos efeitos que elas podem desencadear. Na verdade, o uso de psicoativos constitui um meio entre outros para experimentar alterações na consciência ordinária de vigília – talvez a mais antiga, persistente e difundida técnica nesse sentido, encontrável nas mais diversas culturas humanas. Discutir a questão das “drogas” entre nós remete, portanto, ao problema dos sentidos atribuídos a estados alterados de consciência em nossa cultura.

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