Com Lacan, orientamos a psicanálise que sustentamos na atualidade, segundo uma lógica temporal coerente com a temporalidade do sujeito do inconsciente.
O V Encontro Internacional da IF-EPFCL propõe um tema de trabalho desdobrado em três eixos interdependentes. Com efeito, o tempo na psicanálise decorre dos tempos do sujeito do inconsciente e, de seu manejo depende a efetividade da psicanálise no seu tempo.
Os Tempos Do Sujeito Do Inconsciente:
Há o tempo que passa: O tempo passa, é claro, irreversível, segundo a sucessão do antes ao depois, da vida à morte. Para o sujeito do inconsciente, todavia, desde sua constituição pelo significante, o presente se passa na antecipação de um futuro marcado por aquilo que do passado não é mais: um “pode ser” delineia-se a partir de um “poderia ter sido”.
Wo es war soll Ich werden. Este tempo é escandido por momentos cruciais de báscula, marcando o corpo na hora da castração.
E há um tempo que não passa: A atemporalidade, que justifica a indestrutibilidade do desejo, como dizia Freud. Neste tempo, pode ocorrer uma outra lógica que não aquela do Cronos: a do momento oportuno, o Kairos.
A fita de Moebius que ostenta nosso cartaz – em dois tempos, três movimentos – mostra esta dupla temporalidade do sujeito do inconsciente. Com efeito:“Em qualquer ponto em que se esteja dessa suposta viagem, a estrutura, isto é, a relação com um certo saber, a estrutura não larga disso.
E este desejo é estritamente, durante a vida inteira, sempre o mesmo… esse famoso desejo indestrutível que passeia sobre a linha da viagem” .
O Tempo Na Psicanálise:
A escansão das sessões, sua frequência, a duração das análises se referem não à técnica, mas à ética que comanda a operação da transferência: “relação essencialmente ligada ao tempo e ao seu manejo” .
Em busca do tempo perdido, a análise pode proporcionar “fazer-se ao ser” sendo que por isso “precisa tempo” (“à l’étant, faut le temps de se faire à l’être ”), isto é, o tempo de achar por ali seu sintoma (sinthome), “pois é somente depois de um longo desvio que pode advir para o sujeito o saber de sua rejeição original”.
A Psicanálise No Seu Tempo:
Esses longos desvios não estão em alta na cotação do mercado de nosso tempo que se compraz em denegrir a psicanálise ( Time is money). Todavia, esta resiste – ainda, sempre – ao avesso do plano capitalista.
Isso não é uma razão para que os psicanalistas, mesmo tomando-a na contracorrente, não se envolvam com essa atualidade e seus excessos para, a partir do campo lacaniano, fazer subir na cotação o humano e sua letra.