Deleuze E O Corpo

Não se pretende fazer aqui um trabalho sobre Deleuze, tampouco como Deleuze, mas, antes, um trabalho com Deleuze, isto é, utilizar de sua filosofia para abordar alguns problemas e temas que ele próprio pouco explorou.

Se é verdade que sofremos de um excesso de monografias a respeito de sua filosofia, como bem o disse Zourabichvili, faltam-nos, no entanto, monografias consistentes, isto é, que não apenas trabalhem com sua filosofia – utilizando seus conceitos em outros domínios, deslocando-os de sua terra natal –, mas também que exponham seus conceitos de maneira rigorosa. Essa última tendência dá-nos a impressão, pelo menos inicialmente, de nos conduzir a uma réplica escolar demasiado rígida, reforçando um certo cânone ainda recente na “interpretação” de sua filosofia; um cânone – ou, para utilizar a expressão de Leclercq, uma doxografia – que declara ilegítimos os problemas e alianças que desviem excessivamente do conteúdo original de sua obra.
Com efeito, Zourabichvili afirma que talvez estejamos diante de uma falsa alternativa: exposição sistemática ou utilização irresponsável, e também de um falso problema, qual seja, “o sentimento de que uma aproximação mais precisa levaria a tornar um autor de agora um clássico”. Ora, compreender um filósofo é uma tarefa que exige que se passe por seus conceitos, mas, também, que o desloquemos, submetendo-o a um exílio provisório. Mais do que isso, compreender significa sentir-se capaz de fazer, como disse Gide em seus Frutos da Terra, sem porém fazer igual. Ainda nesse sentido, Rancière afirma que “Compreender um pensador não é chegar a coincidir com o seu centro. É, ao contrário, deportá-lo, conduzi-lo a uma trajetória em que suas articulações se afrouxam e permitem um jogo”.
Assim, é verdade que a noção de corpo ocupa um lugar privilegiado no pensamento de Deleuze, no entanto, as consequências e desdobramentos desse privilégio não são analisados de forma demorada. É o caso, por exemplo, da noção de consciência – assunto que abordaremos no segundo capítulo.
Embora o problema da consciência atravesse toda sua obra, Deleuze não parece se preocupar muito com ela, a despeito de declará-la falsa e lugar privilegiado da ilusão. Acreditamos que essa importante lacuna deve ser preenchida.

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Não se pretende fazer aqui um trabalho sobre Deleuze, tampouco como Deleuze, mas, antes, um trabalho com Deleuze, isto é, utilizar de sua filosofia para abordar alguns problemas e temas que ele próprio pouco explorou. Se é verdade que sofremos de um excesso de monografias a respeito de sua filosofia, como bem o disse Zourabichvili, faltam-nos, no entanto, monografias consistentes, isto é, que não apenas trabalhem com sua filosofia – utilizando seus conceitos em outros domínios, deslocando-os de sua terra natal –, mas também que exponham seus conceitos de maneira rigorosa. Essa última tendência dá-nos a impressão, pelo menos inicialmente, de nos conduzir a uma réplica escolar demasiado rígida, reforçando um certo cânone ainda recente na “interpretação” de sua filosofia; um cânone – ou, para utilizar a expressão de Leclercq, uma doxografia – que declara ilegítimos os problemas e alianças que desviem excessivamente do conteúdo original de sua obra.
Com efeito, Zourabichvili afirma que talvez estejamos diante de uma falsa alternativa: exposição sistemática ou utilização irresponsável, e também de um falso problema, qual seja, “o sentimento de que uma aproximação mais precisa levaria a tornar um autor de agora um clássico”. Ora, compreender um filósofo é uma tarefa que exige que se passe por seus conceitos, mas, também, que o desloquemos, submetendo-o a um exílio provisório. Mais do que isso, compreender significa sentir-se capaz de fazer, como disse Gide em seus Frutos da Terra, sem porém fazer igual. Ainda nesse sentido, Rancière afirma que “Compreender um pensador não é chegar a coincidir com o seu centro. É, ao contrário, deportá-lo, conduzi-lo a uma trajetória em que suas articulações se afrouxam e permitem um jogo”.
Assim, é verdade que a noção de corpo ocupa um lugar privilegiado no pensamento de Deleuze, no entanto, as consequências e desdobramentos desse privilégio não são analisados de forma demorada. É o caso, por exemplo, da noção de consciência – assunto que abordaremos no segundo capítulo.
Embora o problema da consciência atravesse toda sua obra, Deleuze não parece se preocupar muito com ela, a despeito de declará-la falsa e lugar privilegiado da ilusão. Acreditamos que essa importante lacuna deve ser preenchida.

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