Compre-me O Céu

Desde que vim morar na Grã-Bretanha, em 1997, tenho feito o possível para voltar à China duas vezes por ano, a fim de atualizar minha “formação”. Pois as enormes mudanças que ocorrem hoje ultrapassam em muito qualquer coisa encontrada em livros escolares ou registros históricos.

A evolução em todo o país — desde o crescimento estratosférico da economia à transformação da sociedade, bem como os novos, incessantes e surpreendentes avanços nas relações interpessoais — produziu uma sociedade que está se modificando numa velocidade nunca antes vista. Tudo na China — pessoas, fatos e objetos — tem estado tão inquieto que temos a sensação de que está se fragmentando na velocidade da luz. Sei que, se não cuidar da minha “formação”, vou ficar suspensa no tempo e no espaço daquilo que meu filho chama de “a China antiga”.
Quase todas as vezes em que retorna da China, seja trabalhando como voluntário nos confins do interior, apanhando um trem comum por vinte horas (ele frequentemente faz isso como uma espécie de lição de casa sobre a China), ou visitando amigos e familiares na cidade, meu filho, Panpan, sempre volta tomado por novos questionamentos. Por que há uma diferença tão abissal entre as grandes cidades e o interior? Como é possível que, entre diversos lugares de um mesmo país, regidos pelos mesmos governantes, haja décadas de distância a separá-los? Como é possível entender as mudanças que estão ocorrendo na China? Quem representa o povo chinês hoje — os funcionários colarinhos-brancos, que circulam entre cidades e aeroportos? Ou os camponeses e os trabalhadores migrantes, que viajam a pé por aldeias rurais sacolejando entre uma e outra rodoviária? Se a China é um país comunista, por que os pobres de zonas rurais não têm apoio na hora do nascimento, da doença e da morte? E, se é um país capitalista, por que a economia é manejada por um governo de partido único? Será que meu filho se sente de fato um chinês nativo? Nesses momentos tenho vontade de tapar sua boca com a mão! É simplesmente impossível encontrar respostas que o satisfaçam. Falando francamente, nem sequer sei onde ele poderá encontrar as respostas. Mas não posso deixar de procurá-las, não só para o bem dele, mas também para mim, como filha da China e como mãe chinesa.

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Quase todas as vezes em que retorna da China, seja trabalhando como voluntário nos confins do interior, apanhando um trem comum por vinte horas (ele frequentemente faz isso como uma espécie de lição de casa sobre a China), ou visitando amigos e familiares na cidade, meu filho, Panpan, sempre volta tomado por novos questionamentos. Por que há uma diferença tão abissal entre as grandes cidades e o interior? Como é possível que, entre diversos lugares de um mesmo país, regidos pelos mesmos governantes, haja décadas de distância a separá-los? Como é possível entender as mudanças que estão ocorrendo na China? Quem representa o povo chinês hoje — os funcionários colarinhos-brancos, que circulam entre cidades e aeroportos? Ou os camponeses e os trabalhadores migrantes, que viajam a pé por aldeias rurais sacolejando entre uma e outra rodoviária? Se a China é um país comunista, por que os pobres de zonas rurais não têm apoio na hora do nascimento, da doença e da morte? E, se é um país capitalista, por que a economia é manejada por um governo de partido único? Será que meu filho se sente de fato um chinês nativo? Nesses momentos tenho vontade de tapar sua boca com a mão! É simplesmente impossível encontrar respostas que o satisfaçam. Falando francamente, nem sequer sei onde ele poderá encontrar as respostas. Mas não posso deixar de procurá-las, não só para o bem dele, mas também para mim, como filha da China e como mãe chinesa.

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