O Mo(vi)mento Do Discurso

Muito provavelmente, o que há de mais instigante no estudo da filosofia antiga é a percepção de que os problemas que na atualidade são tidos como de extrema relevância já estavam presentes, como discussão ou forte intuição, no florescer da filosofia ocidental.


Ao analisarmos os textos acessíveis de Górgias podemos perceber a construção de uma reflexão filosófica instigante sobre a problemática do logos. O discurso para o sofista de Leontino deve ser considerado como a máxima esfera de efetivação de nossa humanidade.
É no discurso que construímos a “realidade última” com a qual lidamos, pois esta é essencialmente cultural. Aquilo que conhecemos ou compreendemos em nossa existência está absolutamente relacionado com aquilo que dizemos, isto é, com os discursos que proferimos.
Contudo, diametralmente oposto a Parmênides, Górgias não compreende a relação Ser X Discurso como uma isomorfia, muito menos uma oportunidade para fundamentar a defesa de uma ontologia forte através da postulação de uma realidade extramundana. Para o sofista, o fato de enunciarmos discursos constrói aquilo que era definido como o “ser”, de tal maneira, que este constitui-se uma pura elaboração convencional daquele.
O mundo que conhecemos, aquele que de fato concebemos como existente, é uma elaboração determinada pelos enunciados anteriormente proferidos e por aqueles que continuam sendo emitidos no cotidiano de nossas relações.
Por isso falar de uma essência do ser, ontologicamente fundada, preexistente a linguagem, e especialmente conceber tal ser como causa geneticamente anterior a linguagem, é no mínimo um desatino na concepção gorgiana.
É exatamente neste momento que cada indivíduo reconhece o quanto cada ser humano tem plenos motivos para ser existencialmente angustiado; a tomada do discurso como objeto de apaziguamento das contradições do real torna-se muito mais aceitável e, em certa medida, necessária para o indivíduo.
Nossa existência é envolta em uma tragédia epistemológica: temos uma concupiscência epistêmica insaciável, mas uma capacidade efetiva de leitura de mundo limitada em virtude da precariedade de nossa racionalidade e sensibilidade.
Górgias de Leontino em suas obras, o Tratado sobre o não-ser ou sobre a natureza e Elogio de Helena discorre exatamente sobre este poder criativo inerente ao discurso.
Na primeira obra, Górgias denuncia a impossibilidade humana de eleger outro recurso, que não o logos, como instrumento de construção do conhecimento de um indivíduo.

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Muito provavelmente, o que há de mais instigante no estudo da filosofia antiga é a percepção de que os problemas que na atualidade são tidos como de extrema relevância já estavam presentes, como discussão ou forte intuição, no florescer da filosofia ocidental.
Ao analisarmos os textos acessíveis de Górgias podemos perceber a construção de uma reflexão filosófica instigante sobre a problemática do logos. O discurso para o sofista de Leontino deve ser considerado como a máxima esfera de efetivação de nossa humanidade.
É no discurso que construímos a “realidade última” com a qual lidamos, pois esta é essencialmente cultural. Aquilo que conhecemos ou compreendemos em nossa existência está absolutamente relacionado com aquilo que dizemos, isto é, com os discursos que proferimos.
Contudo, diametralmente oposto a Parmênides, Górgias não compreende a relação Ser X Discurso como uma isomorfia, muito menos uma oportunidade para fundamentar a defesa de uma ontologia forte através da postulação de uma realidade extramundana. Para o sofista, o fato de enunciarmos discursos constrói aquilo que era definido como o “ser”, de tal maneira, que este constitui-se uma pura elaboração convencional daquele.
O mundo que conhecemos, aquele que de fato concebemos como existente, é uma elaboração determinada pelos enunciados anteriormente proferidos e por aqueles que continuam sendo emitidos no cotidiano de nossas relações.
Por isso falar de uma essência do ser, ontologicamente fundada, preexistente a linguagem, e especialmente conceber tal ser como causa geneticamente anterior a linguagem, é no mínimo um desatino na concepção gorgiana.
É exatamente neste momento que cada indivíduo reconhece o quanto cada ser humano tem plenos motivos para ser existencialmente angustiado; a tomada do discurso como objeto de apaziguamento das contradições do real torna-se muito mais aceitável e, em certa medida, necessária para o indivíduo.
Nossa existência é envolta em uma tragédia epistemológica: temos uma concupiscência epistêmica insaciável, mas uma capacidade efetiva de leitura de mundo limitada em virtude da precariedade de nossa racionalidade e sensibilidade.
Górgias de Leontino em suas obras, o Tratado sobre o não-ser ou sobre a natureza e Elogio de Helena discorre exatamente sobre este poder criativo inerente ao discurso.
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