Mal-Entendido Em Moscou

Mal-Entendido Em Moscou, que se vale das experiências de Simone de Beauvoir e de seu marido, Jean-Paul Sartre, em viagem à União Soviética, é um tocante relato sobre decepções políticas e sentimentais que lançam uma luz sobre a singularidade de nossa existência.


Mal-Entendido Em Moscou, novela longa escrita em 1966-1967, devia fazer parte da coletânea A mulher desiludida (1968). Apesar da qualidade evidente, Simone de Beauvoir retirou-a e a substituiu por “A idade da discrição”. Foi publicada pela primeira vez em 1992, na revista Roman.
Mal-Entendido Em Moscou narra a crise conjugal e de identidade (superada in fine) vivida por Nicole e André, um casal de professores aposentados que está envelhecendo, em viagem a Moscou, aonde vão para encontrar Macha, a filha do primeiro casamento de André.
A narrativa escolhida se revela perfeitamente adequada ao assunto tratado. Simone de Beauvoir alterna, em ritmo rápido e em sequências curtas de mesmo tamanho (vinte e quatro no total), o ponto de vista de Nicole e o de André; o leitor ocupa assim uma posição privilegiada em relação a cada um dos personagens, fechados momentaneamente em suas interpretações equivocadas, em suas decepções não confessadas, em seus rancores desproporcionais.
Esta técnica, esta adição, permite a ela desenvolver, em paralelo, um ponto de vista masculino e um feminino, tanto em suas diferenças (as preocupações de André são mais políticas; as de Nicole, mais voltadas para a sensibilidade) quanto em suas semelhanças. Simone de Beauvoir já havia utilizado esse foco duplo em seus romances anteriores (O sangue dos outros, Os mandarins), mas jamais com esta intensidade nem com esta complementaridade.
Como o título indica, a novela associa estreitamente a história individual e a história coletiva: o mal-entendido conjugal ocorre durante uma viagem que leva a uma decepção política. Contém, assim, um testemunho (crítico) apaixonante sobre a União Soviética de meados dos anos 1960. Simone de Beauvoir se inspira nas estadas regulares dela e de Sartre na URSS, convidados pela União de Escritores, de 1962 a 1966 (além disso, lá Sartre reencontrava Lena Zonina, sua amiga russa de quem Macha toma emprestados certos traços).
Assim, é por meio da experiência concreta dos protagonistas, atentos aos espetáculos e às sensações, que se medem as transformações do país e que se vivem numerosas confusões provocadas pelo absurdo burocrático. A situação cultural da União Soviética e sua política externa, dominada na época pela tensão sino-soviética, suscitam discussões entre Macha e o pai, por fim decepcionado por não encontrar um ideal socialista puro na Moscou que ele redescobre.
A crítica ao regime soviético apresentada em Balanço final, escrito em 1971 depois da invasão da Tchecoslováquia, será mais forte e levantará mais o problema das liberdades. Porém, o quadro detalhado da situação na União Soviética de Mal-Entendido Em Moscou é um documento igualmente precioso.

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Mal-Entendido Em Moscou, novela longa escrita em 1966-1967, devia fazer parte da coletânea A mulher desiludida (1968). Apesar da qualidade evidente, Simone de Beauvoir retirou-a e a substituiu por “A idade da discrição”. Foi publicada pela primeira vez em 1992, na revista Roman.
Mal-Entendido Em Moscou narra a crise conjugal e de identidade (superada in fine) vivida por Nicole e André, um casal de professores aposentados que está envelhecendo, em viagem a Moscou, aonde vão para encontrar Macha, a filha do primeiro casamento de André.
A narrativa escolhida se revela perfeitamente adequada ao assunto tratado. Simone de Beauvoir alterna, em ritmo rápido e em sequências curtas de mesmo tamanho (vinte e quatro no total), o ponto de vista de Nicole e o de André; o leitor ocupa assim uma posição privilegiada em relação a cada um dos personagens, fechados momentaneamente em suas interpretações equivocadas, em suas decepções não confessadas, em seus rancores desproporcionais.
Esta técnica, esta adição, permite a ela desenvolver, em paralelo, um ponto de vista masculino e um feminino, tanto em suas diferenças (as preocupações de André são mais políticas; as de Nicole, mais voltadas para a sensibilidade) quanto em suas semelhanças. Simone de Beauvoir já havia utilizado esse foco duplo em seus romances anteriores (O sangue dos outros, Os mandarins), mas jamais com esta intensidade nem com esta complementaridade.
Como o título indica, a novela associa estreitamente a história individual e a história coletiva: o mal-entendido conjugal ocorre durante uma viagem que leva a uma decepção política. Contém, assim, um testemunho (crítico) apaixonante sobre a União Soviética de meados dos anos 1960. Simone de Beauvoir se inspira nas estadas regulares dela e de Sartre na URSS, convidados pela União de Escritores, de 1962 a 1966 (além disso, lá Sartre reencontrava Lena Zonina, sua amiga russa de quem Macha toma emprestados certos traços).
Assim, é por meio da experiência concreta dos protagonistas, atentos aos espetáculos e às sensações, que se medem as transformações do país e que se vivem numerosas confusões provocadas pelo absurdo burocrático. A situação cultural da União Soviética e sua política externa, dominada na época pela tensão sino-soviética, suscitam discussões entre Macha e o pai, por fim decepcionado por não encontrar um ideal socialista puro na Moscou que ele redescobre.
A crítica ao regime soviético apresentada em Balanço final, escrito em 1971 depois da invasão da Tchecoslováquia, será mais forte e levantará mais o problema das liberdades. Porém, o quadro detalhado da situação na União Soviética de Mal-Entendido Em Moscou é um documento igualmente precioso.

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