Homens Do Sertão

O trajeto que me conduziu às obras de João Guimarães Rosa foi marcado por receio diante daquela escrita “diferente”, estranhamento suscitado por uma fala que, à primeira vista, me fazia buscar o significado das palavras, olvidando as estórias.


Além desses desencontros, havia a atração pelo desconhecido, pela novidade. Ainda no ensino médio, ganhei, por acaso, No Urubuquaquá, no Pinhém. Sem nenhum contato com as narrativas rosianas, tentei ler “O Recado do morro”, porém, às primeiras páginas, desanimei. Vencida pela sintaxe e pelos vocábulos que não conhecia, tornei-me escrava dos dicionários. Não era leitura, mas sim caça obsessiva de palavras. Desisti.
Um tempo depois, no primeiro semestre da graduação em Letras-Português Literatura- pela Universidade Federal do Ceará, um amigo me falava de certo livro, Campo Geral, que era interessante, e me recomendou expressamente a leitura. Falou-me que era do João Guimarães Rosa. O que pensei: “De novo não...”
Decidida a ler até o final, resolvi aceitar que não entendia e, ao mesmo tempo, estava entendendo. Com esse pensamento, li. Não foi rápido, nem fácil. Em certas passagens, a leitura ficava truncada.
Procurei ler alguns trechos em voz alta, o que tornava o texto bem mais fluente. Ou lia para alguém, para que juntos discutíssemos. Meses depois, consegui terminar. E gostei. Mas, em virtude de outras ocupações, deixei Rosa para depois.
Novamente, fugi.
E eis que o depois chega, com a disciplina Tópicos de Literatura Brasileira, ministrada pela professora Neuma Cavalcante. Afastada das estórias rosianas, minhas leituras então se concentravam na área de Teoria da Literatura. A disciplina de Tópicos propunha a leitura da novela “Buriti”, de Noites do sertão, e a elaboração de um ensaio acerca de um dos personagens.
Curiosamente, foi solicitada à turma que lesse a narrativa sem nenhum tipo de aporte teórico prévio, para que não fôssemos guiados em nossa leitura. Adentraríamos o universo de João Guimarães Rosa sem guias, desarmados.
Sem teóricos e sem dicionários, tentei sempre me lembrar do que a professora Neuma dizia: “Quem lhe dá a teoria é o texto. Vocês não devem jogar a teoria no texto, porque senão ele nunca falará. A primeira conversa é com a estória.” Um pouco desconfiada, resolvi ler sem pretensões.

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Além desses desencontros, havia a atração pelo desconhecido, pela novidade. Ainda no ensino médio, ganhei, por acaso, No Urubuquaquá, no Pinhém. Sem nenhum contato com as narrativas rosianas, tentei ler “O Recado do morro”, porém, às primeiras páginas, desanimei. Vencida pela sintaxe e pelos vocábulos que não conhecia, tornei-me escrava dos dicionários. Não era leitura, mas sim caça obsessiva de palavras. Desisti.
Um tempo depois, no primeiro semestre da graduação em Letras-Português Literatura- pela Universidade Federal do Ceará, um amigo me falava de certo livro, Campo Geral, que era interessante, e me recomendou expressamente a leitura. Falou-me que era do João Guimarães Rosa. O que pensei: “De novo não…”
Decidida a ler até o final, resolvi aceitar que não entendia e, ao mesmo tempo, estava entendendo. Com esse pensamento, li. Não foi rápido, nem fácil. Em certas passagens, a leitura ficava truncada.
Procurei ler alguns trechos em voz alta, o que tornava o texto bem mais fluente. Ou lia para alguém, para que juntos discutíssemos. Meses depois, consegui terminar. E gostei. Mas, em virtude de outras ocupações, deixei Rosa para depois.
Novamente, fugi.
E eis que o depois chega, com a disciplina Tópicos de Literatura Brasileira, ministrada pela professora Neuma Cavalcante. Afastada das estórias rosianas, minhas leituras então se concentravam na área de Teoria da Literatura. A disciplina de Tópicos propunha a leitura da novela “Buriti”, de Noites do sertão, e a elaboração de um ensaio acerca de um dos personagens.
Curiosamente, foi solicitada à turma que lesse a narrativa sem nenhum tipo de aporte teórico prévio, para que não fôssemos guiados em nossa leitura. Adentraríamos o universo de João Guimarães Rosa sem guias, desarmados.
Sem teóricos e sem dicionários, tentei sempre me lembrar do que a professora Neuma dizia: “Quem lhe dá a teoria é o texto. Vocês não devem jogar a teoria no texto, porque senão ele nunca falará. A primeira conversa é com a estória.” Um pouco desconfiada, resolvi ler sem pretensões.

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