
Historicamente, a mulher foi posicionada como ser à margem das negociações de significados e decisões políticas na sociedade patriarcal. Impedida de livremente trafegar e se manifestar na esfera social, a mulher tinha seu campo de atuação reduzido à esfera doméstica, cabendo a ela a manutenção dos laços familiares e os sacrifícios físico, intelectual, emocional e material de suas vontades e de sua liberdade para perseguir outros caminhos que não aqueles previstos pelas instituições de seu tempo.
Assim sendo, somente alguns poucos papéis eram ofertados às mulheres, a depender da classe social que ocupassem no contexto histórico específico em que estivessem inseridas, e, caso essa identificação não fosse imediata e amplamente aceita, suas identidades seriam circunscritas aos preconceitos e sentenciadas pelos julgamentos da época — louca, bruxa, prostituta, ou ainda outras denominações que as impossibilitassem do convívio social.
Para refletir sobre essas questões, o “Colóquio de Literatura: Vozes Femininas” aconteceu na Universidade Federal do Acre, como atividade do Grupo de Extensão Estudos de Língua e Literaturas Inglesas, durante a última semana de novembro de 2019. A atividade contou com professores especialistas de diversas áreas dos estudos literários, que se alternaram em palestras sobre as várias vozes trazidas para o debate — interlocuções diversas nas literaturas britânica, brasileira, espanhola, caribenha e na literatura surda.
Contagiadas pelas discussões apaixonadas que se sucederam naqueles dias, tivemos a ideia de organizar um livro com um enfoque especial para a multiplicidade dessas vozes, sejam elas concebidas por escritores ou por escritoras, possibilitando pensar a alteridade ensejada pelo feminino como elemento imprescindível para o exercício crítico não só das relações de gênero, mas também de outras minorias brutal- mente apagadas ou forçosamente relegadas às margens.
Os textos aqui reunidos foram, em sua grande maioria, produzidos para esse colóquio de literatura. No entanto, também fomos brindados com textos de colaboradores convidados de outras instituições, o que corroborou nossa empreitada de organizar e publicar este volume. Vale ressaltar que, porque contamos com especialistas de diversas áreas, alguns artigos contêm citações na língua de origem das fontes consultadas. Nessas circunstâncias, mais do que um registro do evento, este livro pretende ser autônomo o suficiente para provocar novos debates e críticas.
“Vozes Femininas” é, enfim, uma proposta do Grupo de Pesquisa em Literatura e Estudos Comparados (GLIEC), que pretende suscitar novas investigações, novas leituras e interesses para a literatura feita por mulheres. Esperamos que as falas aqui reunidas, que representam os esforços de pesquisa desenvolvidas no interior das Academias, contribuam, não somente para a formação intelectual de nossos leitores, mas, principalmente, que resgatem a paixão com que se debateu e se viveu a literatura naqueles quatro dias de colóquio.











