Da Consciência Ao Discurso

Neste ensaio mostraremos como Bakhtin, em PPD, opera uma gradativa saída da filosofia da consciência para uma mais abrangente compreensão do discurso.

Esse processo já se encontra nas suas primeiras obras sobre estética e filosofia da linguagem, mas nos ateremos principalmente à sua interpretação da poética de Dostoiévski, pois nessa obra encontram- se as virtudes e as dificuldades da estética bakhtiniana, embora, nesse caso, se possa falar não apenas de estética, mas também de poética, construção e ação criativa.

Assim, a estética não diria respeito à recepção sensível, mas também situar-se-ia na poética. Esse assunto, porém, não é um domínio tácito, mas problemático.

Por isso, em Bakhtin, eles são postos ao modo de “questões” e “problemas”. Seriam então âmbitos problemáticos cujo acesso seria também problemático.

Mikhail Bakhtin frequentemente confidenciava aos seus mais próximos que gostaria de ser considerado mais como filósofo do que como literato. A nosso ver isso é correto, pois os problemas da sua estética são problemas filosóficos.

Pode-se dizer que a sua interpretação da poética de Dostoiévski vai além de uma estética e se torna um problema filosófico mais de fundo; e um problema desse tipo chama-se de “ontológico”.

Nesse sentido, os problemas da estética seriam efetivamente problemas ontológicos. No entanto, à primeira vista, parece estranho falar de uma ontologia de Bakhtin.

A tentativa de instaurar uma ontologia seria enganosa, pois a noção de
polifonia precisamente põe em questão o monologismo da ontologia tradicional. No entanto, pode-se falar de ontologia à medida que se pergunta não pelo fundamento, mas por aquilo que origina a pergunta pelo que há.

Mas o que quer dizer “ontologia”? O estudo do ente ou do que existe, ou melhor ainda, o assunto dessa disciplina pode ser resumido na pergunta: “o que há?” Nesse sentido, qualquer ontologia seria monologia. As respostas, portanto, são muito variadas.

Em Heidegger, retomando os gregos, a pergunta pelo o que é, o ente em seu ser, levou à construção de uma ontologia onde a resposta é a de que o ser confunde-se com o tempo existencial; em Carnap “o que há” é o resultado da construção lógica-cognitiva do mundo; em Nietzsche, da vontade de poder, etc.; em Bakhtin, por sua vez, essa questão está vinculada às noções de diálogo e polifonia.

Assim, tratar do “que há” é dar conta do que é sancionado ou expresso pelo diálogo e pela polifonia.

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Assim, a estética não diria respeito à recepção sensível, mas também situar-se-ia na poética. Esse assunto, porém, não é um domínio tácito, mas problemático.

Por isso, em Bakhtin, eles são postos ao modo de “questões” e “problemas”. Seriam então âmbitos problemáticos cujo acesso seria também problemático.

Mikhail Bakhtin frequentemente confidenciava aos seus mais próximos que gostaria de ser considerado mais como filósofo do que como literato. A nosso ver isso é correto, pois os problemas da sua estética são problemas filosóficos.

Pode-se dizer que a sua interpretação da poética de Dostoiévski vai além de uma estética e se torna um problema filosófico mais de fundo; e um problema desse tipo chama-se de “ontológico”.

Nesse sentido, os problemas da estética seriam efetivamente problemas ontológicos. No entanto, à primeira vista, parece estranho falar de uma ontologia de Bakhtin.

A tentativa de instaurar uma ontologia seria enganosa, pois a noção de
polifonia precisamente põe em questão o monologismo da ontologia tradicional. No entanto, pode-se falar de ontologia à medida que se pergunta não pelo fundamento, mas por aquilo que origina a pergunta pelo que há.

Mas o que quer dizer “ontologia”? O estudo do ente ou do que existe, ou melhor ainda, o assunto dessa disciplina pode ser resumido na pergunta: “o que há?” Nesse sentido, qualquer ontologia seria monologia. As respostas, portanto, são muito variadas.

Em Heidegger, retomando os gregos, a pergunta pelo o que é, o ente em seu ser, levou à construção de uma ontologia onde a resposta é a de que o ser confunde-se com o tempo existencial; em Carnap “o que há” é o resultado da construção lógica-cognitiva do mundo; em Nietzsche, da vontade de poder, etc.; em Bakhtin, por sua vez, essa questão está vinculada às noções de diálogo e polifonia.

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