A Bela Da Tarde

A Bela Da Tarde está longe de ser, e o autor faz questão de frisá-lo, o romance de uma aberração sensual, versando, bem pelo contrário, uma tragédia de amor. Não acreditar nisso corresponderia a cair num equívoco, tanto de ordem literária quanto de ordem psicológica.
De qualquer maneira, a arte invulgarmente trabalhada de Joseph Kessel transforma A Bela Da Tarde num estudo sensível, delicado, da alma feminina, mal se dando conta o leitor do ângulo de baixeza moral em que repousa um dos eixos da ação. Os tipos, recortados em carne e sangue, vivem como gente de carne e sangue.

Séverine, a personagem central, seu marido, seu amante, o homem que a persegue com seu desejo, as mulheres com as quais convive, tudo se anima, cresce e age como criaturas modeladas num sopro humano.
De página para página, vai tomando corpo uma espécie de frenesi de que o leitor não consegue escapar. O cinema fez de A Bela Da Tarde, sob o título de Belle de Jour, um filme nascido clássico e que obteve sugestiva premiação. Carreira igual espera a caprichada tradução brasileira.
"Que caso extraordinário", disseram-me várias vezes. Mas certos médicos me escreveram, declarando que conheciam Séverine. Ao parecer desses médicos, era evidente que este romance era o resultado feliz de uma observação patológica. Ora, foi isso, precisamente, o que não desejei dar a entender. A pintura de um monstro não me interessa, mesmo que seja perfeita. O que tentei mostrar neste livro foi o terrível divórcio entre o coração e a carne, entre um verdadeiro, imenso e terno amor, e a exigência implacável dos sentidos. Conflito que, com raras exceções, cada homem, cada mulher que ama por longo tempo, carrega dentro de si. Apercebido ou não, ativado ou adormecido, ele existe. Antagonismo banal, tantas vezes descrito!
Mas, para levá-lo a um grau de intensidade que permita aos instintos manifestar-se na plenitude de sua grandeza e de sua eternidade, era necessária, a meu ver, uma situação excepcional. Eu deliberadamente a concebi, não por gosto pessoal, mas por ser o único meio de tocar, de forma mais segura e mais acerada, o fundo de qualquer alma que encerre esse trágico embrião.
Escolhi esse assunto como quem examina um coração enfermo para melhor descobrir o que se oculta num coração sadio, ou como se estudam as perturbações mentais para compreender os movimentos da inteligência.
O assunto deste livro não é a aberração sensual de Séverine: é o seu amor por Pierre, independente dessa aberração, e é a tragédia desse amor. Acaso serei eu o único a me compadecer de Séverine, de a amar?

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A Bela Da Tarde está longe de ser, e o autor faz questão de frisá-lo, o romance de uma aberração sensual, versando, bem pelo contrário, uma tragédia de amor. Não acreditar nisso corresponderia a cair num equívoco, tanto de ordem literária quanto de ordem psicológica.
De qualquer maneira, a arte invulgarmente trabalhada de Joseph Kessel transforma A Bela Da Tarde num estudo sensível, delicado, da alma feminina, mal se dando conta o leitor do ângulo de baixeza moral em que repousa um dos eixos da ação. Os tipos, recortados em carne e sangue, vivem como gente de carne e sangue. Séverine, a personagem central, seu marido, seu amante, o homem que a persegue com seu desejo, as mulheres com as quais convive, tudo se anima, cresce e age como criaturas modeladas num sopro humano.
De página para página, vai tomando corpo uma espécie de frenesi de que o leitor não consegue escapar. O cinema fez de A Bela Da Tarde, sob o título de Belle de Jour, um filme nascido clássico e que obteve sugestiva premiação. Carreira igual espera a caprichada tradução brasileira.
“Que caso extraordinário”, disseram-me várias vezes. Mas certos médicos me escreveram, declarando que conheciam Séverine. Ao parecer desses médicos, era evidente que este romance era o resultado feliz de uma observação patológica. Ora, foi isso, precisamente, o que não desejei dar a entender. A pintura de um monstro não me interessa, mesmo que seja perfeita. O que tentei mostrar neste livro foi o terrível divórcio entre o coração e a carne, entre um verdadeiro, imenso e terno amor, e a exigência implacável dos sentidos. Conflito que, com raras exceções, cada homem, cada mulher que ama por longo tempo, carrega dentro de si. Apercebido ou não, ativado ou adormecido, ele existe. Antagonismo banal, tantas vezes descrito!
Mas, para levá-lo a um grau de intensidade que permita aos instintos manifestar-se na plenitude de sua grandeza e de sua eternidade, era necessária, a meu ver, uma situação excepcional. Eu deliberadamente a concebi, não por gosto pessoal, mas por ser o único meio de tocar, de forma mais segura e mais acerada, o fundo de qualquer alma que encerre esse trágico embrião.
Escolhi esse assunto como quem examina um coração enfermo para melhor descobrir o que se oculta num coração sadio, ou como se estudam as perturbações mentais para compreender os movimentos da inteligência.
O assunto deste livro não é a aberração sensual de Séverine: é o seu amor por Pierre, independente dessa aberração, e é a tragédia desse amor. Acaso serei eu o único a me compadecer de Séverine, de a amar?

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