Este livro apresenta as principais etapas da história do império português, seguidas de uma exposição resumida de formas de inserção do Brasil nesse império e de uma reflexão sobre o que essa história significa hoje para os brasileiros. Pensa que existem muitas vantagens em perceber o passado colonial brasileiro – e também o presente e o futuro – desde uma perspectiva histórica ampla, capaz de nela incluir o complexo e surpreendente conjunto desse “mundo que o português criou”, na expressão do sociólogo Gilberto Freyre. Mundo que o português criou, mas muitos outros povos, ao longo da história, transformaram e recriaram.
O império português, que o Brasil integrou de 1500 a 1822, espalhou-se por todos os continentes ao longo de quase seis séculos. Começou com a conquista de Ceuta, no extremo norte da África, em 1415, terminando apenas com a devolução de Macau à China, em dezembro de 1999. Sobretudo marítimo e comercial, o império constituiu-se rapidamente – em 1517 os portugueses já estavam em Cantão, do outro lado do mundo -, mas também depressa se desfigurou, pois durante o século XVII grande parte das possessões lusas passou para o domínio holandês ou inglês, depois de viver sob controle espanhol durante 60 anos (1580-1640).
A expansão marítima portuguesa resultou principalmente das ações combinadas do Estado (com sua burocracia e seus exércitos), da Igreja e das entidades comerciais, com o objetivo principal de obter lucros. Portugal foi o primeiro Estado moderno europeu a se constituir, ainda no século XII: em 1149 Afonso Henriques deu início à dinastia de Borgonha, declarando-se rei de um território autônomo, separado do de Castela. Restrito, no início, à pequena área entre os rios Minho e Douro – da atual fronteira com a Galícia à cidade do Porto graças aos seus exércitos, Portugal depressa expandiu o território para o sul, avançando sobre os espaços árabes até incorporar totalmente, no final do século XIII, o reino muçulmano do Algarve, já próximo à África; desde esse período, o país possui quase as mesmas fronteiras de hoje. A partir de 1385, a nova dinastia de Avis consolidou a unificação política, ampliando os exércitos e costurando alianças da Coroa com casas nobres dos territórios lusitanos do sul e com os comerciantes. Ao mesmo tempo, seus reis iniciaram a expansão ultramarina.
