Cabo De Guerra

Na diminuta estante da ficção ambientada nos anos de chumbo, Cabo de guerra destaca-se por erigir em personagem central um “cachorro”. Assim era designado pela repressão o militante da luta armada que

, traindo seus companheiros, punha-se a seu serviço como espião. Simulando uma fuga da prisão, ou outro truque qualquer, o cachorro retornava a sua organização para coletar informações que passava a seu controlador. Poucas expressões do jargão da ditadura foram tão pertinentes quanto esta, de duplo sentido, exprimindo ao mesmo tempo subserviência canina e baixeza de caráter.
A formação de um cachorro, seu treinamento e sua reintrodução na organização de origem já como agente, tornou-se uma das mais sofisticadas operações dos órgãos de repressão, o polo oposto da sanguinária tortura. Infiltrados em quase todas as organizações clandestinas, os “cachorros” desempenhariam papel crucial na liquidação final dos militantes dessas organizações, decidida pelos militares a partir de 1973, ao se vislumbrar no horizonte o fim da ditadura. Liquidar de vez os militantes passa a ser a prioridade da repressão, ainda que às custas de expor a identidade dos seus “cachorros”. A forma utilizada foi a do “desaparecimento”. Os militantes eram sequestrados e assassinados à margem do sistema legal de repressão, e seus corpos dispostos de modo tal que jamais fossem encontrados.
O “cachorro” de Cabo de guerra é um tipo medíocre, que se deixa levar por qualquer um. Um pobre de espírito e um fraco de caráter. É mais por acaso do que por convicção que ele chega à luta armada e também por acaso se torna informante das forças de repressão. Nem foi preciso torturá-lo. A história é narrada em primeira pessoa por ele próprio, que intercala aos episódios da trama central, recordações de uma infância traumática, na qual testemunhou a morte violenta do pai. Sofre, por isso, surtos alucinatórios.
O título remete à disputa que se deveria dar na mente de um “cachorro” entre a força maligna que o leva à traição, alimentada basicamente pelo oportunismo e o instinto de sobrevivência, e uma suposta força contrária oriunda do impedimento moral de todo humano à traição e à desonra, mas quase inexistente no sinistro personagem deste Cabo de guerra e obviamente derrotada.

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

Cabo De Guerra

Na diminuta estante da ficção ambientada nos anos de chumbo, Cabo de guerra destaca-se por erigir em personagem central um “cachorro”. Assim era designado pela repressão o militante da luta armada que, traindo seus companheiros, punha-se a seu serviço como espião. Simulando uma fuga da prisão, ou outro truque qualquer, o cachorro retornava a sua organização para coletar informações que passava a seu controlador. Poucas expressões do jargão da ditadura foram tão pertinentes quanto esta, de duplo sentido, exprimindo ao mesmo tempo subserviência canina e baixeza de caráter.
A formação de um cachorro, seu treinamento e sua reintrodução na organização de origem já como agente, tornou-se uma das mais sofisticadas operações dos órgãos de repressão, o polo oposto da sanguinária tortura. Infiltrados em quase todas as organizações clandestinas, os “cachorros” desempenhariam papel crucial na liquidação final dos militantes dessas organizações, decidida pelos militares a partir de 1973, ao se vislumbrar no horizonte o fim da ditadura. Liquidar de vez os militantes passa a ser a prioridade da repressão, ainda que às custas de expor a identidade dos seus “cachorros”. A forma utilizada foi a do “desaparecimento”. Os militantes eram sequestrados e assassinados à margem do sistema legal de repressão, e seus corpos dispostos de modo tal que jamais fossem encontrados.
O “cachorro” de Cabo de guerra é um tipo medíocre, que se deixa levar por qualquer um. Um pobre de espírito e um fraco de caráter. É mais por acaso do que por convicção que ele chega à luta armada e também por acaso se torna informante das forças de repressão. Nem foi preciso torturá-lo. A história é narrada em primeira pessoa por ele próprio, que intercala aos episódios da trama central, recordações de uma infância traumática, na qual testemunhou a morte violenta do pai. Sofre, por isso, surtos alucinatórios.
O título remete à disputa que se deveria dar na mente de um “cachorro” entre a força maligna que o leva à traição, alimentada basicamente pelo oportunismo e o instinto de sobrevivência, e uma suposta força contrária oriunda do impedimento moral de todo humano à traição e à desonra, mas quase inexistente no sinistro personagem deste Cabo de guerra e obviamente derrotada.

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog