Gilles Deleuze – A Filosofia Crítica De Kant
Autor de algumas das obras mais representativas da filosofia do século XX, Deleuze é, sem dúvida, um dos pensadores mais originais de nossa era. Dedicou-se também intensamente à história da filosofia.
Escreveu livros sobre Hume, Espinosa, Nietzsche e Bergson, em geral, filósofos que lhe emprestavam elementos para sua filosofia da imanência. De todos os filósofos aos quais se dedicou, Kant é certamente o mais distante de seu próprio projeto filosófico.
Lido por Deleuze, Kant é um autor “cheio de sinuosidades”, capaz de criar “conceitos fantásticos” e fundar a filosofia moderna em torno de um novo personagem conceitual: não mais o investigador, e sim o juiz.
Fascinado mas também horrorizado pela filosofia kantiana, Deleuze escreveu uma obra rigorosa e acessível, que constitui não apenas uma excelente introdução ao pensamento de Kant, mas também ao método deleuziano de leitura.
Kant define a filosofia como “a ciência da relação entre todos os conhecimentos e os fins essenciais da razão humana”; ou como “o amor que o ser racional experimenta pelos fins supremos da razão humana”.
Os fins supremos da Razão formam o sistema da Cultura. Reconhecemos já nestas definições uma dupla luta: contra o empirismo, contra o racionalismo dogmático.
Para o empirismo, a razão não é, falando com propriedade, faculdade dos fins. Estes remetem para uma afetividade primordial, para uma “natureza” capaz de os estabelecer.
A originalidade da razão consiste antes numa certa maneira de realizar fins comuns ao homem e ao animal.
A razão é faculdade de ajustar meios indiretos, oblíquos; a cultura é manha, cálculo, rodeio. Decerto que os meios originais reagem sobre os fins e os transformam; porém, em última instância, os fins são sempre os da natureza.
Contra o empirismo, Kant afirma que há fins da cultura, fins inerentes à razão. Mais ainda, só os fins culturais podem ser considerados absolutamente derradeiros. “O fim último é um fim de tal ordem que a natureza não pode bastar para o efetuar e realizar em conformidade com a ideia, pois tal fim é absoluto”.
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