Expondo fielmente as doutrinas, Gaetano Mosca não as destaca dos homens que as conceberam ou impuseram. Ao resumir, por exemplo, as ideias políticas de Montesquieu, não se esquece de evocar as finas sátiras das Lettets Persanes e de entremostrar a vida plena e brilhante de seu autor; da mesma forma, tratando de Rousseau através do Contrato Social e do Discurso sobre a Desigualdade, deixa transparecer o homem contraditório e atormentado das Confissões e, sobretudo, a sua vida aventurosa e sofredora.
Os primeiros agregados humanos, os grandes impérios orientais, as instituições políticas da Grécia antiga, as doutrinas políticas do Império Romano, as lutas entre o Papado e o Império, Platão, Aristóteles, Maquiavel, Tomas Morus, Campanella, Fénelon, Vico, Fourier, Tocqueville, Comte, Spencer, Marx, desfilam neste livro cativante, apresentados sempre com uma nota de interesse humano, característica do espírito mediterrâneo.
Nesta hora de tantas juras aos pés da Democracia, é bom assinalar que a obra de Mosca não compromete os fundamentos desse regime. Não autorizam o equívoco contrário nem a sua doutrina, nem o seu comportamento em face do fascismo na Itália.
A contribuição mais significativa do mestre italiano para as ideias políticas foi a conhecida teoria da “classe política”, que só à primeira vista pode parecer antidemocrática.
Essa teoria, que no presente livro está apenas referida, constitui objeto da principal de suas obras — “Elementi di Scienza Política”, e consiste na verificação de que, em todas as épocas, sempre existiu uma classe política dirigente, responsável por um sistema de ideias que serve de base às instituições políticas e que exprime o ideal social correspondente (fórmula política).
Essa hipótese é admitida, não como anseio do espírito, mas como verificação feita através da História, isto é, nos domínios da realidade. Daí a inserção da doutrina nos quadros do realismo político, o que teria levado James Burnham a incluir Gaetano Mosca entre “os maquiavelistas”, ao lado de Pareto, Sorel e outros, todos classificados, todavia, como “defensores da liberdade”. Mas concluir daí pelo caráter antidemocrático das ideias do professor italiano seria manifesto exagero.