Política E Racionalidade

Uma forma de introduzir a discussão do problema conceitual de que me ocuparei, a qual tem o mérito de parecer clara e provavelmente plausível a qualquer contemporâneo nosso que aborde o assunto munido apenas do sentido comum, seria propor que o problema da política e da ciência política é o problema da democracia.

Por outras palavras, aquilo de que se trata no processo político é a questão da constituição e preservação da autoridade democrática, ou do caráter democrático do exercício da autoridade.
Essa proposição é desde logo compatível com a reiterada referência à noção de poder nas definições do objeto da ciência política a serem encontradas na literatura.1 De acordo com as ressonâncias que parecem associar-se mais naturalmente, em nossos dias, ao tema da democracia, a perspectiva proposta traz à baila de imediato o problema central da tradição liberal, ou seja, o da necessidade de controlar o poder e impedir que seu exercício se faça de forma tirânica ou despótica (ou antidemocrática ou autoritária, no vocabulário atualmente corrente). Desnecessário destacar que a colocação do poder, nesses termos, no centro das preocupações da ciência política pode ser vista como tendo implicações ético-práticas no sentido da autonomia fundamental, ao menos potencial, de todo ser humano. Em outros termos, se o poder representa um problema a ser privilegiado do ponto de vista analítico, isso se deveria antes de mais nada ao fato de que ele representa também um problema – talvez mesmo o problema crucial – a ser enfrentado e solucionado no plano prático da convivência entre os homens. Não é senão um desdobramento de tais proposições, assim, o reconhecimento de um conteúdo “utópico” ou “crítico” que caberia ver como inerente à própria definição mais convencional e corrente do objeto da ciência política. Tal conteúdo aponta uma condição hipotética de convergência esclarecida e eticamente fundada, isenta de relações de dominação, a caracterizar a coexistência política – condição esta que, contrastada com o estado de coisas deparado no plano histórico ou “empírico”, não poderia deixar de trazer a questão da mudança política embutida também como questão crucial.
Decerto, os termos estritos da ótica liberal não são os únicos através dos quais se torna possível apreciar o poder como problema. Ao contrário, há aspectos importantes do caráter problemático da questão do poder que a ótica liberal deixa na sombra.

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Essa proposição é desde logo compatível com a reiterada referência à noção de poder nas definições do objeto da ciência política a serem encontradas na literatura.1 De acordo com as ressonâncias que parecem associar-se mais naturalmente, em nossos dias, ao tema da democracia, a perspectiva proposta traz à baila de imediato o problema central da tradição liberal, ou seja, o da necessidade de controlar o poder e impedir que seu exercício se faça de forma tirânica ou despótica (ou antidemocrática ou autoritária, no vocabulário atualmente corrente). Desnecessário destacar que a colocação do poder, nesses termos, no centro das preocupações da ciência política pode ser vista como tendo implicações ético-práticas no sentido da autonomia fundamental, ao menos potencial, de todo ser humano. Em outros termos, se o poder representa um problema a ser privilegiado do ponto de vista analítico, isso se deveria antes de mais nada ao fato de que ele representa também um problema – talvez mesmo o problema crucial – a ser enfrentado e solucionado no plano prático da convivência entre os homens. Não é senão um desdobramento de tais proposições, assim, o reconhecimento de um conteúdo “utópico” ou “crítico” que caberia ver como inerente à própria definição mais convencional e corrente do objeto da ciência política. Tal conteúdo aponta uma condição hipotética de convergência esclarecida e eticamente fundada, isenta de relações de dominação, a caracterizar a coexistência política – condição esta que, contrastada com o estado de coisas deparado no plano histórico ou “empírico”, não poderia deixar de trazer a questão da mudança política embutida também como questão crucial.
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