Esta obra tenciona discutir diferentes traduções do principal livro de Sigmund Freud, Die Traumdeutung [A Interpretação dos Sonhos], datado de 1900, para embasar certas perspectivas acerca das consequências para a clínica psicanalítica do modo pelo qual um tradutor, devido a seus posicionamentos e vertentes conceituais, vem a trabalhar com a obra freudiana.
Em termos de estilo e terminologia, procuramos pensar como a marca estilística, e a escolha de vocábulos que tal tradutor faz, pode influenciar, em sua contínua formação, o psicanalista; no que tange a seus modos e modelos de diagnosticar, intervir e pensar a própria clínica, ante as questões que podem advir na escuta de cada um de seus pacientes.
Para tanto, selecionamos os capítulos II e VII desta obra enfocada, em diferentes versões, por bem falarem da interpretação freudiana e dos resultados metapsicológicos provenientes de sua prática teorizada. Relacionamos este ponto de vista sobre a importância das consequências práticas (que se tornam inclusive teóricas) das diferentes traduções de Freud com a Teoria Funcionalista dos estudos da tradução.
Retomamos este tema ao final do texto, para vislumbrar as possibilidades de diálogo entre tal teoria e a criação funcional de Freud, que se relaciona com a escuta e a intervenção quanto ao inconsciente daquele que fala em análise, mesmo tendo em conta que esses insights foram usados por Freud, posteriormente, em textos culturais; mas que obtemos como resultado de sua prática prévia que trouxe as conceituações mesmas que vieram a embasar a amplitude de todo o seu pensamento.
Sobre as relações entre tradução e psicanálise, vemos que, na obra mesma de Sigmund Freud, elas podem apontar às suas primeiras perspectivas acerca do psíquico, remetido a fenômenos diretamente ligados à linguagem, em suas funções e disfunções – em especial no que concerne ao estudo das afasias.
Antes de surgir o termo “psicanálise”, já, por exemplo, nos Estudos sobre a histeria, estabelecidos pelo próprio Sigmund Freud juntamente a seu colega Josef Breuer,em 1895 – o termo “psicanálise” surgiria em 1896; a sintomatologia neurótica era vista qual uma profusão sígnica ou sintagmática (também “simbólica”, no dizer dos próprios autores), que vinha a apresentar-se mediante o discurso dos pacientes em tratamento, e passível de converter-se em várias formas de adoecimento corporal.