Olhos D’Água

Olhos D’Água ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.

Em Olhos D’Água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida?

Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”. Em Olhos D’Água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.

A abrangência de tal problemática ultrapassa, decerto, o mundo negro, assim como transcende o dia de hoje. Os contos, sempre fincados no fugidio presente, abarcam o passado e interrogam o futuro. Sintomaticamente, são muitos e diversos os velhos e as crianças que os habitam. O passado é inevitavelmente implacável, o futuro, em geral duvidoso, certas vezes inexoravelmente negado. É o caso, por exemplo, do pivete Lumbiá, ou do menino Lixão, nos contos que levam os seus nomes: “E [Lixão] foi se encolhendo, se enroscando até ganhar a posição de feto”. A força simbólica de tal regressão física e emocional é de uma síntese irreparável.

Em seu percurso, Olhos D’Água, além do mundo de mulheres e de meninos, incorpora homens como protagonistas (Quimbá, Ardoca), cuja perspectiva, ocasionalmente, passa a comandar a narração. Ouso dizer que o fluxo narrativo atinge o seu clímax no já citado “A gente combinamos de não morrer” em que, pela primeira vez, diversos narradores encaminham a ação.

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Em Olhos D’Água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida?

Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”. Em Olhos D’Água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.

A abrangência de tal problemática ultrapassa, decerto, o mundo negro, assim como transcende o dia de hoje. Os contos, sempre fincados no fugidio presente, abarcam o passado e interrogam o futuro. Sintomaticamente, são muitos e diversos os velhos e as crianças que os habitam. O passado é inevitavelmente implacável, o futuro, em geral duvidoso, certas vezes inexoravelmente negado. É o caso, por exemplo, do pivete Lumbiá, ou do menino Lixão, nos contos que levam os seus nomes: “E [Lixão] foi se encolhendo, se enroscando até ganhar a posição de feto”. A força simbólica de tal regressão física e emocional é de uma síntese irreparável.

Em seu percurso, Olhos D’Água, além do mundo de mulheres e de meninos, incorpora homens como protagonistas (Quimbá, Ardoca), cuja perspectiva, ocasionalmente, passa a comandar a narração. Ouso dizer que o fluxo narrativo atinge o seu clímax no já citado “A gente combinamos de não morrer” em que, pela primeira vez, diversos narradores encaminham a ação.

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