Zumbi Dos Palmares (HQ) - Há quarenta anos, eu e o Alvaro de Moya, projetamos executar uma história da República de Palmares e Zumbi, o seu líder mais destacado e heroico. Naquele tempo o feito ainda era chamado de quilombo dos Palmares e não tinha sido revisto pela História com a objetividade que tem hoje. Palmares ainda estava nos porões da história, era lembrado apenas como um território de negros fugidos, cujo chefe supremo havia se suicidado atirando-se de um despenhadeiro.

Por outro lado, os negros ainda não haviam saído da penumbra com o dinamismo e a determinação atual, quando muito, reuniam-se em entidades recreativas e culturais. A história de Zumbi, por outro lado, era questionada e muitos autores chegavam mesmo a negar-lhe a existência como pessoa. Zumbi seria apenas um título que passara pelas mãos de muitos, negando-se, assim, a existência do grande chefe como agente social dinâmico.
Dai para cá muita água correu tanto nos veios do movimento negro como na historiografia sobre Palmares. Embora a a bibliografia palmarina ainda esteja muito aquém da sua importância social e política, já muita luz se fez e há uma visão mais lúcida do que foi a República de Palmares como modelo de resistência vitoriosa, durante quase um século.
Expressou a maior manifestação dos negros contra a escravidão durante todo o Sistema Colonial. E não apenas como movimento de revolta radical a esse sistema, mas também, como exemplo da capacidade de organiza~ao social e política dos negros quando livres do sistema que inibia o seu poder organizacional: a escravidão.
Escolhemos a história em quadrinhos porque era o veículo de comunicação muito mais abrangente, como também, porque poderíamos idealizar as figuras dos protagonistas, visualizá-Ias e compartilhar com o leitor a viagem nessa caminhada proporcionada pelo seu imaginário. Essa façanha ficou a cargo do Alvaro de Moya, que teve a sensibilidade de captar o sentido heróico do episódio palmarino, e expressá-lo em tão vigorosos e realistas. Há nos traços desta história em quadrinhos um sentido de valorização permanente dos personagens e das cenas. Eles vão conviver conosco como se estivessem vivos.