Dô (Caminho Da Arte)

Dô, leitura chinesa. Michi, tradução japonesa do ideograma. Suas semânticas: caminho, trajeto, percurso, circuito, passagem, modo de fazer, método, ensinamento, princípio, taoismo...


O Santuário Ise, na província de Mie, um dos mais representativos do Japão, concretiza a imagem desse ideograma. Um visitante, ao chegar no santuário, atravessa várias fronteiras que simbolizam a passagem do território profano para o divino, como os portões torii ou as pontes que se elevam sobre o Rio Isuzu, que corre por baixo. A água está presente como um elemento divisor entre o lado mundano e o universo espiritual a ser desvelado.
Inicia-se, assim, o percurso até o santuário, que se segue por um caminhar marcado pela polissensorialidade – ouve-se o barulho do fluir da água no rio, das batidas dos pedregulhos ocasionadas pelo deslocamento dos pés do transeunte, sente-se o frescor do aroma das árvores do bosque sagrado, de onde se extrai a madeira para a edificação do santuário. Trata-se de uma rota nada semelhante àquelas retilíneas e geometricamente traçadas de alguns espaços públicos ocidentais; o caminho de Ise é sinuoso, curvo e um tanto labiríntico.
Num determinado local, quase no final da caminhada, há uma zona de ablução na qual o peregrino tem a experiência sensorial da purificação – a água está novamente presente nesse momento, em que se lavam as mãos e a boca. Essa é a última fronteira que indica a proximidade da construção sagrada. No entanto, quando chega na área do santuário, o caminhante não consegue vê-lo, pois a sua visão é bloqueada pelas cercas e muito menos se faz possível penetrar a morada de deus. O tão almejado espaço divino é invisível e intocável: apenas um vazio se apresenta no final do trajeto.
O que significa, então, o ato de visitar o santuário?
Tal visita é nada mais nada menos que a própria ação do caminhar. Valoriza-se, assim, o percurso e não o objetivo a ser alcançado, porque o processo da construção é a essência do ato.
Assim é o dô, o caminho de construção da arte e da busca da aprendizagem, que faz parte de palavras relacionadas à arte como kadô (ou ikebana), sadô (cerimônia do chá), kôdô (arte do aroma), shodô (caligrafia japonesa), nôgakudô (teatro nô), englobando também as artes marciais como judô, quendô, aiquidô etc.

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Dô, leitura chinesa. Michi, tradução japonesa do ideograma. Suas semânticas: caminho, trajeto, percurso, circuito, passagem, modo de fazer, método, ensinamento, princípio, taoismo…
O Santuário Ise, na província de Mie, um dos mais representativos do Japão, concretiza a imagem desse ideograma. Um visitante, ao chegar no santuário, atravessa várias fronteiras que simbolizam a passagem do território profano para o divino, como os portões torii ou as pontes que se elevam sobre o Rio Isuzu, que corre por baixo. A água está presente como um elemento divisor entre o lado mundano e o universo espiritual a ser desvelado.
Inicia-se, assim, o percurso até o santuário, que se segue por um caminhar marcado pela polissensorialidade – ouve-se o barulho do fluir da água no rio, das batidas dos pedregulhos ocasionadas pelo deslocamento dos pés do transeunte, sente-se o frescor do aroma das árvores do bosque sagrado, de onde se extrai a madeira para a edificação do santuário. Trata-se de uma rota nada semelhante àquelas retilíneas e geometricamente traçadas de alguns espaços públicos ocidentais; o caminho de Ise é sinuoso, curvo e um tanto labiríntico.
Num determinado local, quase no final da caminhada, há uma zona de ablução na qual o peregrino tem a experiência sensorial da purificação – a água está novamente presente nesse momento, em que se lavam as mãos e a boca. Essa é a última fronteira que indica a proximidade da construção sagrada. No entanto, quando chega na área do santuário, o caminhante não consegue vê-lo, pois a sua visão é bloqueada pelas cercas e muito menos se faz possível penetrar a morada de deus. O tão almejado espaço divino é invisível e intocável: apenas um vazio se apresenta no final do trajeto.
O que significa, então, o ato de visitar o santuário?
Tal visita é nada mais nada menos que a própria ação do caminhar. Valoriza-se, assim, o percurso e não o objetivo a ser alcançado, porque o processo da construção é a essência do ato.
Assim é o dô, o caminho de construção da arte e da busca da aprendizagem, que faz parte de palavras relacionadas à arte como kadô (ou ikebana), sadô (cerimônia do chá), kôdô (arte do aroma), shodô (caligrafia japonesa), nôgakudô (teatro nô), englobando também as artes marciais como judô, quendô, aiquidô etc.

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