
Lembra-se da última vez que você viu uma notícia em que a crueldade do bandido foi a manchete, não o crime em si? Arrisco dizer que sentiu um fogo o consumindo. Do estômago à garganta.
Como uma pessoa civilizada, você controla, por pouco, seus instintos de vingança. E muda de canal.
Will era assim. Até presenciar a violência em seu estado mais cru. Duas vezes. É nesse ponto que ele para de se conter. Torna-se um justiceiro. Seus alvos são aqueles que nós, civilizados, não temos a coragem de eliminar.
Will volta do trabalho de ônibus. É um dia como qualquer outro. Se não tivesse ido trabalhar durante suas preciosas férias, ele nem estaria irritado. E se estivesse calmo, talvez não reagisse ao assalto. Mas ele reage.
E o péssimo começo só aumenta a brutalidade dos assaltantes. As complicações dessa escolha ressoarão pelo resto da vida de Will. Dentre os vários feridos, três morrem. Dois, pelas suas mãos.
Vivo, mas traumatizado, Will luta para voltar à vida normal enquanto é bombardeado pelas ideias ingênuas de seu melhor amigo que defende a forma que Will agiu no ônibus.
Para ele a sociedade cria aberrações que não têm o direito de estarem vivas. São pessoas tão cruéis que se fossem eliminadas, todos à sua volta seriam beneficiados.
Mesmo sem se interessar pelas fantasias do amigo, mais barbárie é trazida à sua vida. Ele tenta, mas não consegue deixar de reagir. A partir daí, ele se envolve numa escalada crescente de violência, desistindo da sua alma para se transformar num justiceiro.
Ele passa a acreditar que está fazendo o Bem Maior, um mal necessário, que ninguém tem estômago para fazer. E ele é bom nisso. Ninguém consegue detê-lo.
Logo, ele se transforma numa lenda urbana, um dos Caçadores. Ele só não percebe que aos poucos perde sua humanidade e vira um dos monstros que costuma caçar.
Só uma pessoa tem o poder de enjaular seu ódio sem limites. Só seu amor pode lhe trazer paz. Mas, depois de tudo o que ele fez, ainda existe algo para ser salvo?
“O Segundo Caçador é um texto instigante que, desde o início, mostra a que veio. A violenta cena inicial já deixa o leitor empolgado para ver o que virá em seguida.”
Lúcia Facco
