
A tradução de The Third Way to a Good Society (2000) quase duas décadas após sua publicação original merece breves considerações sobre a sua pertinência teórica e histórica.
Nos últimos 20 anos houve variados e impactantes acontecimentos – o fracasso das reformas neoliberais, o 11 de setembro, a crise financeira internacional desencadeada em 2008, o crescimento da extrema direita em diversos continentes.
Tem a obra de Amitai Etzioni, escrita em um contexto anterior, algo de relevante a dizer nos dias atuais? As suas premissas e proposições guardam potência para pensar os desafios do presente e do futuro?
A Terceira Via Para A Boa Sociedade é uma espécie de síntese da teoria de Etzioni e diz muito do pensamento comunitarista responsivo norte-americano.
O livro foi destinado originalmente ao público britânico, interessado em conhecer mais amplamente as propostas dos comunitaristas quanto à renovação do Estado de Bem-Estar Social, mote central do trabalhismo inglês e de diversos partidos socialdemocratas europeus.
As ideias do movimento comunitarista mereceram a atenção do novo trabalhismo inglês liderado por Tony Blair, cuja principal referência era o ideário da terceira via de Anthony Giddens.
Enquanto Giddens ocupou-se na revisão da social democracia “clássica”, aprisionada, segundo ele, pela lógica de um Estado excessivamente amplo e burocrático, Etzioni centrou sua mensagem na necessidade de revalorização da comunidade como a tarefa central à renovação do welfare state.
No Brasil, a discussão sobre a terceira via ateve-se basicamente ao enfoque de Giddens, cujos livros passaram a ser traduzidos para o português ainda na década de 1990
Nos meios acadêmicos e políticos, firmou-se gradativamente o entendimento de que o ideário da terceira via curva-se ao neoliberalismo e justifica as reformas neoliberais.
Esse viés orientou também as análises sobre os temas do terceiro setor e da comunidade/organizações comunitárias, que resultaram bastante pobres.
Os rumos do debate seriam outros se acadêmicos e lideranças progressistas tivessem atentado às contribuições dos intelectuais norte-americanos.
