Pasolini: Poemas

A extraordinária poesia de Pier Paolo Pasolini é quase desconhecida no Brasil, tanto pela inexistência de traduções, como por ter ficado conhecido aqui, sobretudo como cineasta.

Sobre os poemas de Pasolini, escritos no estilo poético “experimentalista” – parte deles em dialeto friulano, pode-se dizer que denotam uma sensibilidade extrema, confessionais e ao mesmo tempo voltados para a temática social. Seu estilo híbrido – às vezes muito próximo da prosa – não encobre uma extraordinária musicalidade e o domínio do ritmo. Por outro lado, a temática homossexual e a sensualidade dos poemas convivem sem dificuldade com a temática política, presente especialmente no diálogo estabelecido com o pensamento filosófico e político de Gramsci.
Mais que Italo Calvino, Alberto Moravia e Elsa Morante, embora menos traduzido, Pier Paolo Pasolini teve um papel de protagonista absoluto na cultura italiana dos últimos cinquenta anos do século XX. A morte prematura ampliou seu sucesso e sua influência, fazendo dele um mito. Quando foi assassinado, em 1975 – na companhia de um “ragazzo di vita”, em circunstâncias que, talvez, um dia, serão esclarecidas –, tinha pouco mais de cinquenta anos e era o intelectual mais controvertido e escandaloso da Itália. Suas teses sobre a “mutação antropológica” dos italianos eram criticadas e denegridas por todos, sobretudo pela esquerda radical e marxista. Nos últimos artigos e ensaios, recolhidos em dois livros, Scritti corsari (Escritos corsários) e Lettere luterane (Cartas luteranas), Pasolini lançara um desesperado alarme: o desenvolvimento neocapitalista, o culto do consumo de massa ou “consumismo”, haviam abolido as diferenças culturais de classe.
Proletários e subproletários haviam perdido a identidade e a consciência de si mesmos. Todos, embora de fato não o fossem, queriam ser classe média, pequena burguesia modernizada. Diversidades existentes havia séculos eram canceladas no decorrer de uma década. A sociedade italiana se “padronizara” em seu nível médio. Essa unificação, baseada em valores e estilos de vida, substituía o controle político e se mostrava infinitamente mais eficiente, poderosa e pervasiva que qualquer outra. A própria cultura de esquerda, mesmo marxista e mesmo considerando-se revolucionária, não se dera conta dessa nova “ditadura” que prescindia de ideologia de Estado e de ação policial para controlar a totalidade da vida social. Era a ditadura fundada na identificação entre desenvolvimento e progresso, crescimento econômico, incremento do consumo e avanço da sociedade. Diante desse fenômeno, a crítica marxista fundada no materialismo econômico se mostrava, segundo Pasolini, desarmada e cega.

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A extraordinária poesia de Pier Paolo Pasolini é quase desconhecida no Brasil, tanto pela inexistência de traduções, como por ter ficado conhecido aqui, sobretudo como cineasta. Sobre os poemas de Pasolini, escritos no estilo poético “experimentalista” – parte deles em dialeto friulano, pode-se dizer que denotam uma sensibilidade extrema, confessionais e ao mesmo tempo voltados para a temática social. Seu estilo híbrido – às vezes muito próximo da prosa – não encobre uma extraordinária musicalidade e o domínio do ritmo. Por outro lado, a temática homossexual e a sensualidade dos poemas convivem sem dificuldade com a temática política, presente especialmente no diálogo estabelecido com o pensamento filosófico e político de Gramsci.
Mais que Italo Calvino, Alberto Moravia e Elsa Morante, embora menos traduzido, Pier Paolo Pasolini teve um papel de protagonista absoluto na cultura italiana dos últimos cinquenta anos do século XX. A morte prematura ampliou seu sucesso e sua influência, fazendo dele um mito. Quando foi assassinado, em 1975 – na companhia de um “ragazzo di vita”, em circunstâncias que, talvez, um dia, serão esclarecidas –, tinha pouco mais de cinquenta anos e era o intelectual mais controvertido e escandaloso da Itália. Suas teses sobre a “mutação antropológica” dos italianos eram criticadas e denegridas por todos, sobretudo pela esquerda radical e marxista. Nos últimos artigos e ensaios, recolhidos em dois livros, Scritti corsari (Escritos corsários) e Lettere luterane (Cartas luteranas), Pasolini lançara um desesperado alarme: o desenvolvimento neocapitalista, o culto do consumo de massa ou “consumismo”, haviam abolido as diferenças culturais de classe.
Proletários e subproletários haviam perdido a identidade e a consciência de si mesmos. Todos, embora de fato não o fossem, queriam ser classe média, pequena burguesia modernizada. Diversidades existentes havia séculos eram canceladas no decorrer de uma década. A sociedade italiana se “padronizara” em seu nível médio. Essa unificação, baseada em valores e estilos de vida, substituía o controle político e se mostrava infinitamente mais eficiente, poderosa e pervasiva que qualquer outra. A própria cultura de esquerda, mesmo marxista e mesmo considerando-se revolucionária, não se dera conta dessa nova “ditadura” que prescindia de ideologia de Estado e de ação policial para controlar a totalidade da vida social. Era a ditadura fundada na identificação entre desenvolvimento e progresso, crescimento econômico, incremento do consumo e avanço da sociedade. Diante desse fenômeno, a crítica marxista fundada no materialismo econômico se mostrava, segundo Pasolini, desarmada e cega.

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