Antropologia Visual Na Prática

A sequência que abre este livro revela o primeiro contato com a Antropologia Visual. Geralmente isto acontece, nas faculdades contemporâneas, naquele período de exploração radical do mundo das Ciências Sociais, durante os primeiros anos de estudo.

Quem ensina geralmente percebe que a forte expectativa dos(as) alunos(as) na sala de aula, muitas vezes, é justificada por aquela magia que as imagens em movimento produzem.
Magia, uma categoria que, há mais de 100 anos, Frazer definiu no Ramo de Ouro e que parece bem se adaptar para definir o meio cinematográfico: “A magia é um sistema espúrio de lei natural, bem como um guia enganoso de comportamento: é tanto uma falsa ciência quanto uma arte abortiva”.
O cinema, “uma invenção sem futuro”, nas palavras dos uns dos seus inventores, logo depois da sua inserção no mundo da Antropologia acadêmica, dominada pela escrita, apareceu como um meio enganoso colocado na fronteira entre arte e ciência.
Teóricos de ponta da Antropologia francesa como Claude Levi-Strauss e Marcel Griaule tiveram frente à projeção de um Fous de Jean Rouch (1955), a emblemática percepção da imagem etnográica como um objeto perigoso capaz de quebrar facilmente sistemas culturais fundamentais para as instituições.
O filme foi julgado como arriscado e nocivo, e Rouch foi convidado a não divulga-lo. Marcel Griaule, que orientou o doutorado de Rouch, sugeriu inclusive que o trabalho fosse destruído. Em efeito, as imagens do filme mostravam um dos mais violentos rituais de possessão gravados na história. Os principais antropólogos da França afirmavam que se tratava de uma imagem que podia reafirmar a visão das sociedades africanas como primitivas por um público não “preparado”. Essa foi a reação da academia; então, Rouch encontrou-se no meio de “um fogo cruzado”, sendo acusado de “observar os africanos como se fossem insetos”, como disse o intelectual senegalês Ousmane Sembene, o primeiro diretor de filmes de toda a África Sul Sahariana. Se o filme do Rouch pode ser considerado, hoje em dia, como um dos mais bem sucedidos cruzamentos entre arte e ciência, o debate daqueles anos mostra claramente a forma como foi percebido o documentário etnográfico: como perigoso, seja no mundo da antropologia e seja no mundo da arte e da literatura.
E essa capacidade específica e subversiva do audiovisual na prática antropológica emerge muitas vezes na imaginação dos(as) estudantes. É nesse sentido, tentando estimular essa abertura epistemológica, que os percursos de estudo se articulam geralmente nas aulas. Percursos que analisam a história já centenária da Antropologia Visual na tentativa de revelar suas interconexões com as teorias que se sucederam, porém ao mesmo e sublinhando a autonomia desse campo específico – campo epistemológico –, o qual, muitas vezes, precedeu revoluções teóricas e epistemológicas hoje canonizadas na Antropologia.

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A sequência que abre este livro revela o primeiro contato com a Antropologia Visual. Geralmente isto acontece, nas faculdades contemporâneas, naquele período de exploração radical do mundo das Ciências Sociais, durante os primeiros anos de estudo. Quem ensina geralmente percebe que a forte expectativa dos(as) alunos(as) na sala de aula, muitas vezes, é justificada por aquela magia que as imagens em movimento produzem.
Magia, uma categoria que, há mais de 100 anos, Frazer definiu no Ramo de Ouro e que parece bem se adaptar para definir o meio cinematográfico: “A magia é um sistema espúrio de lei natural, bem como um guia enganoso de comportamento: é tanto uma falsa ciência quanto uma arte abortiva”.
O cinema, “uma invenção sem futuro”, nas palavras dos uns dos seus inventores, logo depois da sua inserção no mundo da Antropologia acadêmica, dominada pela escrita, apareceu como um meio enganoso colocado na fronteira entre arte e ciência.
Teóricos de ponta da Antropologia francesa como Claude Levi-Strauss e Marcel Griaule tiveram frente à projeção de um Fous de Jean Rouch (1955), a emblemática percepção da imagem etnográica como um objeto perigoso capaz de quebrar facilmente sistemas culturais fundamentais para as instituições.
O filme foi julgado como arriscado e nocivo, e Rouch foi convidado a não divulga-lo. Marcel Griaule, que orientou o doutorado de Rouch, sugeriu inclusive que o trabalho fosse destruído. Em efeito, as imagens do filme mostravam um dos mais violentos rituais de possessão gravados na história. Os principais antropólogos da França afirmavam que se tratava de uma imagem que podia reafirmar a visão das sociedades africanas como primitivas por um público não “preparado”. Essa foi a reação da academia; então, Rouch encontrou-se no meio de “um fogo cruzado”, sendo acusado de “observar os africanos como se fossem insetos”, como disse o intelectual senegalês Ousmane Sembene, o primeiro diretor de filmes de toda a África Sul Sahariana. Se o filme do Rouch pode ser considerado, hoje em dia, como um dos mais bem sucedidos cruzamentos entre arte e ciência, o debate daqueles anos mostra claramente a forma como foi percebido o documentário etnográfico: como perigoso, seja no mundo da antropologia e seja no mundo da arte e da literatura.
E essa capacidade específica e subversiva do audiovisual na prática antropológica emerge muitas vezes na imaginação dos(as) estudantes. É nesse sentido, tentando estimular essa abertura epistemológica, que os percursos de estudo se articulam geralmente nas aulas. Percursos que analisam a história já centenária da Antropologia Visual na tentativa de revelar suas interconexões com as teorias que se sucederam, porém ao mesmo e sublinhando a autonomia desse campo específico – campo epistemológico –, o qual, muitas vezes, precedeu revoluções teóricas e epistemológicas hoje canonizadas na Antropologia.

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