Machado & Shakespeare

Machado & Shakespeare invesiga as aparições, diretas ou subliminares, do bardo seiscentista na pena do bruxo oitocentista do Cosme Velho.

O leitor acostumado a frequentar a obra de Machado de Assis se depara constantemente com referências a autores e textos clássicos da literatura. Goethe, Shelley, Thackeray, Sterne são apenas alguns dos nomes que circulam por seus escritos a exigir que o seu interlocutor exercite habilidades de interpretação e análise dos conteúdos articulados.

Shakespeare é, dentre esses clássicos, uma das ocorrências mais sistemáticas. Tido por vários críticos como o autor mais citado por Machado, o estudo da presença do dramaturgo na obra machadiana, que teve em Eugênio Gomes um pioneiro, tem conquistado pesquisadores conhecidos. O interesse se justifica, afinal as citações do bardo acompanham o escritor praticamente ao longo de toda a sua carreira.

As primeiras referências que Machado faz ao dramaturgo aparecem em textos escritos no ano de 1859 e são uma constante até a sua última obra, Memorial de Aires, publicada em 1908, ano de sua morte.

Ele é mencionado em cerca de cinquenta contos, em dez poesias, em três peças de teatro e em cerca de cem textos, incluindo crônicas, críticas literárias e escritos diversos.

Mas não é apenas a frequente recorrência a Shakespeare o que chama a atenção. É notório que Machado constrói uma intertextualidade sofisticada e minuciosa com a produção do autor inglês, resgatando e reinventando personagens e situações criadas por ele para, por vezes, fundir textos e enredos.

Nesse processo, a obra do dramaturgo é interpretada, absorvida e devolvida pelo escritor, que o faz a partir de uma hermenêutica própria e por meio de um procedimento que poderia nos remeter à antropofagia oswaldiana surgida apenas no século XX.

O procedimento de Machado dá margem a variadas possibilidades de abordagem. Afinal, ele exige do crítico que busque, na construção de seu texto, os possíveis mecanismos da importação do teatro shakespeariano para a sua escrita.

Dentro desse campo de pesquisa fértil e aberto a renovadas significações há situações que se destacam. É o caso de Dom Casmurro, romance publicado em 1899, disponível para venda em 1900, que apresenta uma intertextualidade explícita com Otelo.

A peça, citada várias vezes no romance, o contamina de maneira ampla, a ponto de ser eventualmente apontado como uma espécie de reescrita da tragédia de Shakespeare, tendo sido, assim, objeto de várias discussões e estudos.

A mais conhecida abordagem dessa intertextualidade é a de Helen Caldwell com seu comentado ensaio The Brazilian Othello of Machado de Assis (O Otelo Brasileiro de Machado de Assis), publicado em 1960 nos Estados Unidos, com tradução para o português em 2002.

Seu estudo, que pela primeira vez questionou a suposta culpa de Capitu, aceita até então pelos críticos, foi um divisor de águas nas discussões sobre o romance e abriu caminho para interessantes reflexões a respeito da presença de Otelo em Dom Casmurro, uma vez que a estudiosa se apoia na intertextualidade para desenvolver sua linha de raciocínio.

http://livrandante.com.br/contribuicao/caneca-la-casa-de-cafe-branca/

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O leitor acostumado a frequentar a obra de Machado de Assis se depara constantemente com referências a autores e textos clássicos da literatura. Goethe, Shelley, Thackeray, Sterne são apenas alguns dos nomes que circulam por seus escritos a exigir que o seu interlocutor exercite habilidades de interpretação e análise dos conteúdos articulados.

Shakespeare é, dentre esses clássicos, uma das ocorrências mais sistemáticas. Tido por vários críticos como o autor mais citado por Machado, o estudo da presença do dramaturgo na obra machadiana, que teve em Eugênio Gomes um pioneiro, tem conquistado pesquisadores conhecidos. O interesse se justifica, afinal as citações do bardo acompanham o escritor praticamente ao longo de toda a sua carreira.

As primeiras referências que Machado faz ao dramaturgo aparecem em textos escritos no ano de 1859 e são uma constante até a sua última obra, Memorial de Aires, publicada em 1908, ano de sua morte.

Ele é mencionado em cerca de cinquenta contos, em dez poesias, em três peças de teatro e em cerca de cem textos, incluindo crônicas, críticas literárias e escritos diversos.

Mas não é apenas a frequente recorrência a Shakespeare o que chama a atenção. É notório que Machado constrói uma intertextualidade sofisticada e minuciosa com a produção do autor inglês, resgatando e reinventando personagens e situações criadas por ele para, por vezes, fundir textos e enredos.

Nesse processo, a obra do dramaturgo é interpretada, absorvida e devolvida pelo escritor, que o faz a partir de uma hermenêutica própria e por meio de um procedimento que poderia nos remeter à antropofagia oswaldiana surgida apenas no século XX.

O procedimento de Machado dá margem a variadas possibilidades de abordagem. Afinal, ele exige do crítico que busque, na construção de seu texto, os possíveis mecanismos da importação do teatro shakespeariano para a sua escrita.

Dentro desse campo de pesquisa fértil e aberto a renovadas significações há situações que se destacam. É o caso de Dom Casmurro, romance publicado em 1899, disponível para venda em 1900, que apresenta uma intertextualidade explícita com Otelo.

A peça, citada várias vezes no romance, o contamina de maneira ampla, a ponto de ser eventualmente apontado como uma espécie de reescrita da tragédia de Shakespeare, tendo sido, assim, objeto de várias discussões e estudos.

A mais conhecida abordagem dessa intertextualidade é a de Helen Caldwell com seu comentado ensaio The Brazilian Othello of Machado de Assis (O Otelo Brasileiro de Machado de Assis), publicado em 1960 nos Estados Unidos, com tradução para o português em 2002.

Seu estudo, que pela primeira vez questionou a suposta culpa de Capitu, aceita até então pelos críticos, foi um divisor de águas nas discussões sobre o romance e abriu caminho para interessantes reflexões a respeito da presença de Otelo em Dom Casmurro, uma vez que a estudiosa se apoia na intertextualidade para desenvolver sua linha de raciocínio.

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