Modernidade E Holocausto

Há duas maneiras de subestimar, desdenhar e se equivocar no julgamento da importância do Holocausto para a sociologia como teoria da civilização, da modernidade, da civilização moderna.


Uma é apresentar o Holocausto como algo que aconteceu aos judeus, como um evento da história judaica. Isso torna o Holocausto único, confortavelmente atípico e sociologicamente inconsequente. O exemplo mais comum dessa maneira de ver o Holocausto é sua apresentação como ponto culminante do antissemitismo cristão-europeu — um fenômeno único em si mesmo, sem nada comparável no vasto e denso inventário de preconceitos e agressões étnicos ou religiosos. Dentre todos os demais casos de antagonismo coletivo, o antissemitismo é único por sua sistematicidade sem precedentes, por sua intensidade ideológica, por sua disseminação supranacional e supraterritorial, pela mistura singular de fontes e tributários locais e ecumênicos. Enquanto definido, por assim dizer, como a continuação do antissemitismo por outros meios, o Holocausto parece ser um “conjunto unitário”, um episódio único, que talvez lance alguma luz sobre a patologia da sociedade em que ocorreu mas que dificilmente acrescenta algo à nossa compreensão do estado normal dessa sociedade. Menos ainda exige uma revisão significativa da compreensão ortodoxa da tendência histórica da modernidade, do processo civilizador, dos tópicos constitutivos da investigação sociológica.
Outra maneira de apresentar o Holocausto — aparentemente apontando em direção oposta, mas levando na prática ao mesmo resultado — é como um caso extremo de uma ampla e conhecida categoria de fenômenos sociais, categoria seguramente abominável e repulsiva, mas com a qual podemos (e devemos) conviver. Devemos conviver com ela por causa de sua capacidade de recuperação e onipresença, mas acima de tudo porque a sociedade moderna tem sido desde o início, é e continuará sendo uma organização destinada a desenrolá-la e exibi-la por completo. Assim o Holocausto é classificado como mais um item (embora de destaque) numa ampla categoria que abarca muitos casos “semelhantes” de conflito, preconceito ou agressão.

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Uma é apresentar o Holocausto como algo que aconteceu aos judeus, como um evento da história judaica. Isso torna o Holocausto único, confortavelmente atípico e sociologicamente inconsequente. O exemplo mais comum dessa maneira de ver o Holocausto é sua apresentação como ponto culminante do antissemitismo cristão-europeu — um fenômeno único em si mesmo, sem nada comparável no vasto e denso inventário de preconceitos e agressões étnicos ou religiosos. Dentre todos os demais casos de antagonismo coletivo, o antissemitismo é único por sua sistematicidade sem precedentes, por sua intensidade ideológica, por sua disseminação supranacional e supraterritorial, pela mistura singular de fontes e tributários locais e ecumênicos. Enquanto definido, por assim dizer, como a continuação do antissemitismo por outros meios, o Holocausto parece ser um “conjunto unitário”, um episódio único, que talvez lance alguma luz sobre a patologia da sociedade em que ocorreu mas que dificilmente acrescenta algo à nossa compreensão do estado normal dessa sociedade. Menos ainda exige uma revisão significativa da compreensão ortodoxa da tendência histórica da modernidade, do processo civilizador, dos tópicos constitutivos da investigação sociológica.
Outra maneira de apresentar o Holocausto — aparentemente apontando em direção oposta, mas levando na prática ao mesmo resultado — é como um caso extremo de uma ampla e conhecida categoria de fenômenos sociais, categoria seguramente abominável e repulsiva, mas com a qual podemos (e devemos) conviver. Devemos conviver com ela por causa de sua capacidade de recuperação e onipresença, mas acima de tudo porque a sociedade moderna tem sido desde o início, é e continuará sendo uma organização destinada a desenrolá-la e exibi-la por completo. Assim o Holocausto é classificado como mais um item (embora de destaque) numa ampla categoria que abarca muitos casos “semelhantes” de conflito, preconceito ou agressão.

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