
Em Poesia Brasileira: Violência E Testemunho, Humor E Resistência, Wilberth Salgueiro traça um amplo painel da poesia nacional, apontando suas linhas de força e tendências dominantes, em confronto com a história e os valores éticos e estéticos partilhados socialmente.
Isso por si só já seria motivo suficiente para recomendar a leitura deste livro, pois nele o leitor se depara com uma quantidade considerável de nomes de poetas em atividade, entre os quais não faltam aqueles que efetivamente se destacam no cenário literário, como também outros tantos ainda obscuros em função dos recortes hegemônicos.
O olhar do autor vai do centro à periferia e da periferia ao centro, buscando desconstruir as hierarquias fundadas no gosto dominante e no consenso de grupos. Resulta desse olhar generoso e plural um retrato mais abrangente da poesia brasileira hodierna.
Seguindo os passos do autor, o leitor poderá também ampliar o seu repertório e navegar em águas ainda pouco frequentadas. Não obstante a abrangência desse olhar inclusivo, ressalte-se também a profundidade e a argúcia com que o autor o exercita.
O livro é composto de três movimentos, partindo do geral para o particular.
Na primeira parte, evidencia-se a necessidade de mapear as tendências dominantes da poesia por meio da explicitação dos projetos estéticos contidos nas antologias estudadas.
A análise atenta das escolhas perpetradas pelos seus organizadores revela, além do gosto, o perfil ideológico de poetas e críticos envolvidos no processo. Para tanto, o autor submete o discurso estetizante de críticos e poetas ao escrutínio da história e da filosofia.
O segundo movimento do livro apresenta ensaios dedicados a poetas e poemas de sua eleição que problematizam a visada crítica que o autor esboça na primeira parte.
Não se trata, pois, de mera ilustração de conceitos a priori pensados e destacados pelo crítico, nem da tentativa de criação de novo cânone ou de sua ampliação, mas sim de uma tentativa de flagrar a história e suas contradições no discurso da poesia.
O terceiro e último movimento do livro compõe-se de textos curtos em que o crítico apresenta obras de escritores, poetas e estudiosos de poesia a pedido destes.
Justifica-se a presença desses textos, porque, desse modo, o leitor pode flagrar o crítico em cena, despido já da parafernália de conceitos críticos exibidos nos dois primeiros movimentos, mas arriscando e inscrevendo suas próprias posições.
