Melhores Poemas

Essa antologia dos Melhores Poemas Torquato Neto é uma ótima oportunidade de embarcar nessa psicodelia que nasce do registro da manifestação.

Com seleção e prefácio de Cláudio Portella, essa antologia dos Melhores Poemas Torquato Neto, em formato pocket, é uma ótima oportunidade de embarcar nessa psicodelia que nasce do registro da manifestação. Toda e qualquer manifestação.

Torquato Neto foi poeta, jornalista e compositor. Atuou como agente cultural e defensor das manifestações artísticas de vanguarda, como a Tropicália, o cinema marginal e a poesia concreta. Diversos artistas gravaram suas composições. Entre eles, Elis Regina e Jair Rodrigues (Louvação), Gal Costa e Caetano Veloso (Nenhuma dor).

“Dividir o que é poesia e o que é letra de música da obra de Torquato Neto é trabalho possível, mas nada esclarecedor. Conforme José Miguel Wisnik, ele é o primeiro poeta a unificar a densidade entre a poesia escrita e a cantada. Assim sendo, todos os textos selecionados também são poemas.” – escreve Cláudio Portella.

Em Torquato, a criação nasce do registro da manifestação. Toda e qualquer manifestação. Não vou longe. Pegue-se Geleia Geral, coluna que assinou no jornal Última Hora.

É ululante que Geleia Geral quer dizer Tudo Tudo. Na coluna, Torquato escreve realmente sobre tudo. Não é apenas um retrato do Rio da época. É um copidesque do Brasil do final dos anos 1960 e começo dos 1970.

Muitos literatos embrenham-se no jornalismo, construindo um texto carregado de referências literárias. Torquato fez o caminho inverso, levou o jornalismo para a literatura. Notem que suas canções estão permeadas de enlevos jornalísticos:

Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia
É bumba-iê-iê-boi
Ano que vem, mês que foi
É bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
É a mesma dança na sala,
no Canecão, na TV
E quem não dança não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada
Um elepê de Sinatra
Maracujá mês de abril
Santo barroco baiano
Superpoder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne-seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade e jardim

(“Geleia Geral” – Gilberto Gil/Torquato Neto)

A letra acima é um texto dissertativo típico de jornal em que os fatos de um país tropical são descritos localizando-os em tempo e espaço. Sabemos que tempo e espaço são noções elementares da imprensa escrita, na qual tudo é situado e datado: ano que vem, mês que foi – é a mesma dança na sala, no Canecão, na TV – não vê no meio da sala – maracujá, mês de abril – carne-seca na janela.

Outra indicação é a frase brutalidade e jardim, sendo brutalidade a notícia inexorável, e jardim a poesia que transcende a notícia. O axioma é tão provável que o título da canção virou coluna de jornal.

Escrevia não apenas pelo compromisso profissional, mas pela necessidade, orgânica, de se manter vivo. Seu pai, Heli da Rocha Nunes, num papo que tivemos, disse: “Ele quando nasceu já tinha tendência para o suicídio”. Deixou diversos escritos.

Era um burilador, subvertedor da palavra. Via-as como facas lançadas por atiradores inábeis.

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Essa antologia dos Melhores Poemas Torquato Neto é uma ótima oportunidade de embarcar nessa psicodelia que nasce do registro da manifestação.

Com seleção e prefácio de Cláudio Portella, essa antologia dos Melhores Poemas Torquato Neto, em formato pocket, é uma ótima oportunidade de embarcar nessa psicodelia que nasce do registro da manifestação. Toda e qualquer manifestação.

Torquato Neto foi poeta, jornalista e compositor. Atuou como agente cultural e defensor das manifestações artísticas de vanguarda, como a Tropicália, o cinema marginal e a poesia concreta. Diversos artistas gravaram suas composições. Entre eles, Elis Regina e Jair Rodrigues (Louvação), Gal Costa e Caetano Veloso (Nenhuma dor).

“Dividir o que é poesia e o que é letra de música da obra de Torquato Neto é trabalho possível, mas nada esclarecedor. Conforme José Miguel Wisnik, ele é o primeiro poeta a unificar a densidade entre a poesia escrita e a cantada. Assim sendo, todos os textos selecionados também são poemas.” – escreve Cláudio Portella.

Em Torquato, a criação nasce do registro da manifestação. Toda e qualquer manifestação. Não vou longe. Pegue-se Geleia Geral, coluna que assinou no jornal Última Hora.

É ululante que Geleia Geral quer dizer Tudo Tudo. Na coluna, Torquato escreve realmente sobre tudo. Não é apenas um retrato do Rio da época. É um copidesque do Brasil do final dos anos 1960 e começo dos 1970.

Muitos literatos embrenham-se no jornalismo, construindo um texto carregado de referências literárias. Torquato fez o caminho inverso, levou o jornalismo para a literatura. Notem que suas canções estão permeadas de enlevos jornalísticos:

Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia
É bumba-iê-iê-boi
Ano que vem, mês que foi
É bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
É a mesma dança na sala,
no Canecão, na TV
E quem não dança não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada
Um elepê de Sinatra
Maracujá mês de abril
Santo barroco baiano
Superpoder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne-seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade e jardim

(“Geleia Geral” – Gilberto Gil/Torquato Neto)

A letra acima é um texto dissertativo típico de jornal em que os fatos de um país tropical são descritos localizando-os em tempo e espaço. Sabemos que tempo e espaço são noções elementares da imprensa escrita, na qual tudo é situado e datado: ano que vem, mês que foi – é a mesma dança na sala, no Canecão, na TV – não vê no meio da sala – maracujá, mês de abril – carne-seca na janela.

Outra indicação é a frase brutalidade e jardim, sendo brutalidade a notícia inexorável, e jardim a poesia que transcende a notícia. O axioma é tão provável que o título da canção virou coluna de jornal.

Escrevia não apenas pelo compromisso profissional, mas pela necessidade, orgânica, de se manter vivo. Seu pai, Heli da Rocha Nunes, num papo que tivemos, disse: “Ele quando nasceu já tinha tendência para o suicídio”. Deixou diversos escritos.

Era um burilador, subvertedor da palavra. Via-as como facas lançadas por atiradores inábeis.

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