
O que a autora nos apresenta nessa produção acadêmica preencheu e superou as exigências de uma Tese de Doutorado e é muito importante a sua publicação.
É um trabalho com começo, meio e fim, mas não é um “trabalho fechado”, pois traz muitos elementos e levantam outros tantos sobre o que acontece no estado do Ceará.
Isto faz deste trabalho um campo fértil para continuar trilhando os caminhos teórico-metodológicos que vêm sendo construídos no âmbito do grupo de pesquisa Sistemas Técnicos e Espaço, dando consistência analítica ao conceito de Formação e Reestruturação Socioespacial do Ceará.
Suscita o debate, a curiosidade que anima e instiga a prosseguir em novas investigações; esta é a sua grande contribuição.
Conhecer e reconhecer o cotidiano dos “homens simples” de “tempos lentos”, fazendo alusão aos termos utilizados por Henri Lefebvre e Milton Santos, nos parece como fundamental ao tratar dos territórios indígenas e camponeses abordados erroneamente, por vezes, como subalternos, subjugados e/ou coadjuvantes na construção do processo histórico-geográfico do Ceará.
Os debates conceituais — tais como a Formação e Reestruturação Socioespacial, compreendendo os usos do tempo e do espaço, especialmente pelos territórios e territorialidades indígenas e camponeses no Ceará — delineiam-se no escopo do capítulo 2.
No capítulo 3 tratamos da expansão do agronegócio do coco, com o olhar sobre o avanço da monocultura no estado do Ceará. Para tanto, fez-se necessário contextualizar o desenvolvimento do agronegócio associado às vias de modernização agrícola, por meio da industrialização, visando o aumento da produtividade e dos lucros através da acumulação.
A discussão sobre tais (des)ordens e normatizações influenciadas pelo agronegócio do coco constitui-se objetivo do capítulo 4, tendo o perímetro irrigado Curu-Paraipaba e a monocultura do coco como uma das suas expressões, a partir das metamorfoses incutidas nos camponeses, posteriores colonos, muitos dos quais preservando características de campesinidade.
Dos canaviais aos coqueirais, a reestruturação socioespacial esteve relacionada à reprodução do modo de acumular capitalista, que por sua vez tensionalizou e tensionou os modos de vidas das territorialidades presentes no Vale do Curu.
É no capítulo 5 que discorremos acerca das conflitualidades e conflitos na perspectiva geográfica, traçando as características das tensionalidades e tensões territoriais a partir da invasão, expropriação e expansão do agronegócio do coco, que na busca por abarcar territórios indígenas e camponeses historicamente territorializados nos “palmilhados” desejados pela monocultura do coco podem possibilitar contra finalidades e, dessa forma, espaços de esperança.
