A Aquisição Da Escrita E Diversidade Cultural

O presente trabalho teve como objetivo analisar a prática educacional de professores índios, levando em consideração o conflito interétnico. Procuramos estabelecer as linhas referenciais que identificam esta prática com o projeto de manutenção da identidade étnica entre os Xerente.


Para chegarmos a isso, investigamos as concepções e expectativas dos Xerente – lideranças de aldeia, pais de alunos, professores – sobre a relação escola-cultura-aquisição da escrita. Investigamos a situação sociolinguística vivida por esta sociedade, que revela a realidade do uso das línguas em conflito e analisamos a prática de sala de aula dos professores em sua congruência com esses fatores sociais. A prática dos professores se revela como uma objetivação do projeto sociocultural dos Xerente de se reestruturar no contexto das relações colonialistas, reconstruindo, reafirmando a identidade étnica, por meio de estratégias linguísticas e pedagógicas. O uso linguístico e o tratamento de questões culturais ligadas ao que é essencial à organização social dessa sociedade, em sala de aula, fazem da ação desses professores uma prática de revitalização cultural, refuncionalizando a escola para a permanência da diversidade cultural.
Os professores são agentes mediadores e dinamizadores que articulam a tradição com a incorporação de um produto cultural da sociedade dominante - a escrita - por meio do uso de sua língua, enquanto marca da identidade étnica, e da recuperação e registro do discurso do velho-wawe, guardião do corpus de tradições. Deste modo, a educação escolar entre os Xerente, cuja tradição está vinculada a uma política assimilacionista de eliminação da diversidade étnica, passa a fazer parte de suas estratégias de resistência sociocultural.
Sua prática foi considerada uma elaboração que articula discussões havidas em cursos de formação de professores índios, as quais se fundamentaram na construção de uma pedagogia para a diversidade cultural e escolhas próprias tendo em vista as expectativas de sua sociedade.
Do ponto de vista do planejamento educacional, este trabalho pretendeu sistematizar conhecimentos para subsidiar programas de formação e assessoria de professores índios, através da análise de uma prática que se constrói dialeticamente, transformando uma estrutura de dominação em fator de reelaboração da identidade étnica, por meio de escolhas estratégicas dos professores, que são os agentes mediadores da apropriação de instrumentos da sociedade dominante, para redimensioná-los de acordo com os interesses de sua própria sociedade. A incorporação da escrita se dá dentro de parâmetros sociais característicos da situação de conflito interétnico, em que os Xerente definem seu modelo de letramento, a serviço de sua integridade sociocultural.

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Para chegarmos a isso, investigamos as concepções e expectativas dos Xerente – lideranças de aldeia, pais de alunos, professores – sobre a relação escola-cultura-aquisição da escrita. Investigamos a situação sociolinguística vivida por esta sociedade, que revela a realidade do uso das línguas em conflito e analisamos a prática de sala de aula dos professores em sua congruência com esses fatores sociais. A prática dos professores se revela como uma objetivação do projeto sociocultural dos Xerente de se reestruturar no contexto das relações colonialistas, reconstruindo, reafirmando a identidade étnica, por meio de estratégias linguísticas e pedagógicas. O uso linguístico e o tratamento de questões culturais ligadas ao que é essencial à organização social dessa sociedade, em sala de aula, fazem da ação desses professores uma prática de revitalização cultural, refuncionalizando a escola para a permanência da diversidade cultural.
Os professores são agentes mediadores e dinamizadores que articulam a tradição com a incorporação de um produto cultural da sociedade dominante – a escrita – por meio do uso de sua língua, enquanto marca da identidade étnica, e da recuperação e registro do discurso do velho-wawe, guardião do corpus de tradições. Deste modo, a educação escolar entre os Xerente, cuja tradição está vinculada a uma política assimilacionista de eliminação da diversidade étnica, passa a fazer parte de suas estratégias de resistência sociocultural.
Sua prática foi considerada uma elaboração que articula discussões havidas em cursos de formação de professores índios, as quais se fundamentaram na construção de uma pedagogia para a diversidade cultural e escolhas próprias tendo em vista as expectativas de sua sociedade.
Do ponto de vista do planejamento educacional, este trabalho pretendeu sistematizar conhecimentos para subsidiar programas de formação e assessoria de professores índios, através da análise de uma prática que se constrói dialeticamente, transformando uma estrutura de dominação em fator de reelaboração da identidade étnica, por meio de escolhas estratégicas dos professores, que são os agentes mediadores da apropriação de instrumentos da sociedade dominante, para redimensioná-los de acordo com os interesses de sua própria sociedade. A incorporação da escrita se dá dentro de parâmetros sociais característicos da situação de conflito interétnico, em que os Xerente definem seu modelo de letramento, a serviço de sua integridade sociocultural.

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