
O Brasil é um país multiétnico e, portanto, multicultural. Suas características atuais deram-se pela presença dos indígenas e de povos africanos e imigrantes de diferentes nacionalidades que se instalaram no país. São identidades que contribuíram para a formação do povo brasileiro e nos fez ser como somos. Assim, a identidade cultural vai além da gastronomia, do esporte, de notas musicais e passos de dança, pois também diz respeito a outras formas artísticas de se expressar.
É essa perspectiva que, neste livro, eu tenho a intenção de prestigiar a tradutora, teatróloga e escritora infantojuvenil Tatiana Belinky, imigrante judia-russa-letã que se instalou na cidade de São Paulo nos anos 1930, onde viveu até 2013, ano de sua morte.
Como muitos imigrantes, ela deixou sua marca na história de nosso país por meio de sua arte e dedicação. Como tradutora, estabeleceu pontes entre culturas, aproximando o povo brasileiro de obras reconhecidas mundialmente, escritas em russo, inglês e francês.
Como teatróloga, criou peças inéditas ou adaptadas de contos de fadas europeus, todas voltadas para o público infantojuvenil, embora o reconhecimento tenha vindo com a adaptação do Sítio do Pica Pau Amarelo, de Monteiro Lobato, para a televisão. Também destaco sua atividade como escritora infantojuvenil – a qual somente passou a exercer na década de 1980, aos 66 anos.
Qual o elo entre as múltiplas atividades que Belinky exerceu em vida? Atrevo-me a dizer que foi o seu talento em narrar histórias.
Pode-se dizer que Tatiana Belinky, como contadora de histórias, inspirou-se num dos personagens mais queridos de Lobato: a Dona Benta. A partir de sua maestria em criar ou registrar as histórias que conhecera na infância, adaptando-as em sua fase adulta para o público infantojuvenil, gerações de crianças brasileiras podem ter contato com um mundo onírico onde reina a fantasia, o amor, a amizade, a coragem.
