Tal como nas demais obras filosóficas de Sêneca, não se encontra nos diálogos uma exposição teórica desenvolvida de maneira metódica e sistemática, com uma argumentação claramente ordenada acerca de conceitos doutrinais e técnicos. O discurso filosófico foi utilizado por Sêneca não como uma atividade estritamente intelectual, mas como um meio para estimular nos leitores determinada disposição interior que pudesse resultar na prática de condutas estabelecidas como positivas pela doutrina moral estoica, da qual Sêneca sempre se manteve adepto e foi um importante divulgador.
O público a que originalmente essa produção foi destinada estava em alguma medida familiarizado com as posições das correntes de pensamento mais difundidas entre os romanos, como eram as doutrinas platônica, aristotélica, epicurista e, especialmente, a dos estoicos. Além disso, esse público era, sem dúvida, majoritariamente pertencente ao mesmo estrato social do autor, ou seja, à elite econômica e política da Roma imperial. Sendo assim, no caso do diálogo sobre a ira, os preceitos expostos visariam, de modo geral, a propor um modelo de como os integrantes da aristocracia deveriam se comportar em relação a essa paixão, “de todas a mais terrível e violenta”, como vem ressaltado no início da obra. Ainda a própria frequência de exemplos envolvendo ações e atitudes de governantes absolutos e de seus cortesãos é um aspecto que reflete o ambiente político romano, já de longa data bastante opressivo.
No entanto, numa escala mais ampla, essa obra foi também claramente concebida como um meio de orientação eficaz para todos aqueles que, contemporâneos do autor ou não, aspirassem a se engajar, ou já estivessem engajados, num processo de aperfeiçoamento moral que, conforme assegurado pela doutrina estoica, lhes possibilitaria superar os tormentos causados pelos temores e desejos atrelados à condição humana, em qualquer lugar ou época, e alcançar a tranquillitas, estado ideal de serenidade, vivenciado de forma plena e permanente pelo sábio estoico.