Mortos –e para mim tanto fazse eu ou ele osmatou.Maiakóvski
o verso de Maiakóvski, suas imagens, sua composição lírica.
Cheguei a escrever sobre isso. Publiquei alguns esboços, mas sempre me voltava à cabeça a idéia de uma monografia. O tema é bastante tentador, pois a poesia de Maiakóvski é qualitativamente diferente de tudo o que foi o verso russo antes dele, e, apesar das associações genéticas que se queira estabelecer, a estrutura de sua poesia é profundamente original e revolucionária.
Mas como escrever sobre sua poesia agora, quando a tônica já não é mais o ritmo, mas a morte do poeta, quando (para fazer uso de sua terminologia poética) a “tristeza aguda” não quer mais se transformar em “dor clara e consciente”? Por ocasião de um de nossos encontros, Maiakóvski, como fazia de costume, leu-me alguns de seus últimos versos. Impôs-se a mim de imediato uma comparação involuntária entre aquilo que eu ouvia e aquilo que julgava que ele poderia produzir, que corresponderia de fato às reais possibilidades criativas do poeta.
“São bons”, eu disse, “mas não tão bons quanto Maiakóvski”.
Mas agora que as possibilidades criativas estão encerradas e que não há mais com quê comparar as suas estrofes inimitáveis, as palavras “os últimos versos de Maiakóvski” subitamente adquiriram um sentido trágico. Como se a angústia da ausência impedisse a visão do ausente. Ainda que mais doloroso, é muito mais fácil, agora, escrever não sobre aquilo que se perdeu, mas sobre a perda em si e sobre os que a sofreram.
Os que perderam são a nossa geração. Aqueles que têm, hoje, entre 30 e 45 anos, aproximadamente. Aqueles que chegaram aos anos da revolução já formados; que, mesmo não sendo barro amorfo, ainda não estavam solidificados, ainda eram capazes de sentir e de se transformar, ainda eram capazes de ver o momento não como alguma coisa de estático, mas como oportunidade para reiniciar a formação.
Já se escreveu, mais de uma vez, que o primeiro amor poético dessa geração foi Aleksándr Blok. Mas foi Vielimir Khlébnikov quem nos deu um novo gênero épico, as primeiras criações autenticamente épicas depois de muitas décadas de estagnação.