A Antropofagia Na Era Da Globalização

Ao longo da história do pensamento brasileiro, várias interpretações sobre a cultura local foram se cristalizando e sendo constantemente retomadas até o presente, o que nos motiva a lançar em direção a elas um olhar sempre renovado.

Nessa abrangente perspectiva, o Brasil já foi percebido por sua tristeza, por sua luxúria e por sua cobiça, assim como por uma ideia de cordialidade congênita cuja atmosfera de intimidade – a invadir todas as esferas da vida – seria uma forte evidência desse “homem cordial”. Sendo um lugar repleto de ambiguidades, paradoxalmente, continua não resistindo aos pensamentos bivalentes – que cada vez mais perdem sua força de interpretação nos dias atuais – para, rotineiramente, repaginar as imagens ou de paraíso ou de inferno, de gigante que acorda ou de perpétuo palco para os horrores de uma política seviciada em corrupção acompanhada de seus espectadores atônitos e, muitas vezes, complacentes.
Longe de se querer esgotar as metáforas ou decifrar tais enigmas, recuperamos uma dessas imagens que nos representaram no passar de alguns séculos (se tomarmos como referência a chegada dos europeus aqui) – a antropofagia –, para fazermos dela o mote de nossa compreensão sobre parte da cultura do Brasil e do mundo contemporâneos.
Não é difícil imaginar a plausibilidade que o conceito de antropofagia carrega. Antes de mais nada, é preciso dizer que ele representa a nossa odisseia mais primitiva e da qual temos notícia principalmente por meio dos relatos dos cronistas. Assim disse Eduardo Viveiros de Castro, ao reparar a constância do ritual antropófago presente nos relatos dos estrangeiros à época do primeiro Brasil colonial. Se por um lado as fontes contêm, majoritariamente, a voz dos colonizadores, por outro, essas mesmas vozes atestam, pela repetição, a força de tal ritual na vida dos autóctones de então.
Recapitulando, a antropofagia, como um ritual ancestral indígena, era o gesto de devoração literal e metafórica do inimigo para a instauração, por parte da aldeia que o capturara, de uma memória cada vez mais abrangente e viva, e representava a valentia dos grandes guerreiros que a esse gesto somavam nomes, esposas, narrativas de vitória. Essa memória se valia sempre do outro.

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Ao longo da história do pensamento brasileiro, várias interpretações sobre a cultura local foram se cristalizando e sendo constantemente retomadas até o presente, o que nos motiva a lançar em direção a elas um olhar sempre renovado. Nessa abrangente perspectiva, o Brasil já foi percebido por sua tristeza, por sua luxúria e por sua cobiça, assim como por uma ideia de cordialidade congênita cuja atmosfera de intimidade – a invadir todas as esferas da vida – seria uma forte evidência desse “homem cordial”. Sendo um lugar repleto de ambiguidades, paradoxalmente, continua não resistindo aos pensamentos bivalentes – que cada vez mais perdem sua força de interpretação nos dias atuais – para, rotineiramente, repaginar as imagens ou de paraíso ou de inferno, de gigante que acorda ou de perpétuo palco para os horrores de uma política seviciada em corrupção acompanhada de seus espectadores atônitos e, muitas vezes, complacentes.
Longe de se querer esgotar as metáforas ou decifrar tais enigmas, recuperamos uma dessas imagens que nos representaram no passar de alguns séculos (se tomarmos como referência a chegada dos europeus aqui) – a antropofagia –, para fazermos dela o mote de nossa compreensão sobre parte da cultura do Brasil e do mundo contemporâneos.
Não é difícil imaginar a plausibilidade que o conceito de antropofagia carrega. Antes de mais nada, é preciso dizer que ele representa a nossa odisseia mais primitiva e da qual temos notícia principalmente por meio dos relatos dos cronistas. Assim disse Eduardo Viveiros de Castro, ao reparar a constância do ritual antropófago presente nos relatos dos estrangeiros à época do primeiro Brasil colonial. Se por um lado as fontes contêm, majoritariamente, a voz dos colonizadores, por outro, essas mesmas vozes atestam, pela repetição, a força de tal ritual na vida dos autóctones de então.
Recapitulando, a antropofagia, como um ritual ancestral indígena, era o gesto de devoração literal e metafórica do inimigo para a instauração, por parte da aldeia que o capturara, de uma memória cada vez mais abrangente e viva, e representava a valentia dos grandes guerreiros que a esse gesto somavam nomes, esposas, narrativas de vitória. Essa memória se valia sempre do outro.

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