
O mote do repente é anunciado como a prosa da economia e da cultura na modernidade capitalista. O andamento será dado pelo cordel benjaminiano, o último, sem primeiro, mas aquele que fixou-se na passagem, que olhava Paris e via os invisíveis que, mediante trabalho abstrato e valor, plasmavam em vidro, aço e tijolo as Passagens, hieróglifo e sintoma de uma era na iminência da debacle, que em 1918 encontrará seu fim, obrigando os sobreviventes a viver depois do fim do mundo.
Trata-se de mostrar que nesta cidade sonhos coletivos petrificaram–se, vitrificaram-se, entrelaçaram-se como aço expondo, manifestamente, sua latência regressiva e seu caráter teleológico que podem fazer despertar a utopia das sociedades sem classe, des-reprimidas e sem Estado mediante a grande indústria.
Expresso na literatura, na política, na arquitetura, na moda, etc. o teor de coisa daquilo que aparece na Paris de então abre-se à crítica, à cisão da suposta unidade daquele sonho coletivo, à ruptura sincopada da harmonia entre as classes e à interrupção da exploração, da expropriação e do massacre dos vencidos de todos os tempos; vislumbra-se, assim, a revolução.
À crise de então cabia fazer a crítica, o que se encontra nos exposés (35 e 39) e nas compilações póstumas dos textos de Benjamin (Tiedmann; posteriormente: Das Passagen-Werk) com que Pedro se/nos envolve, além, claro, do velho Marx e de outros bem mais moços como Debord, Kurz, Arantes, etc.
Importa à crítica iluminar a crise, eviscerá-la expondo sua dimensão arcaica, sua capacidade mitificadora via produção mercantil, manifestar, trazer à superfície o teor de sonho da juventude de uma época e assim, mediante a crítica, expressar (ausdrucken) o sem-expressão (Ausdruckslose) das lutas dos vencidos nas marchas triunfais dos vencedores.
Já ali aparecia a fixação do Pedro, especularmente à de Benjamin, em expor a modernidade capitalista como interpenetração (Durchdringung) entre o arcaico e o novo/moderno que observamos na ambivalência/ambiguidade das relações sociais e das produções culturais, ambas marcadas pela figura do impasse.
