Publicado em 1967, Comunicação em prosa moderna chega aos 50 anos como uma das principais referências para o ensino da escrita no Brasil. Mas se a língua está sempre em transformação, e se o mesmo pode ser dito dos modos de sentir, perceber e expressar de uma determinada cultura, como explicar que o livro de Othon Moacir Garcia permaneça atual decorrido tanto tempo de sua publicação? A resposta parece estar na abordagem única de Othon, ancorada sobretudo em sua convicção de que para aprender a escrever é preciso primeiro aprender a pensar. Esta obra é fruto do esforço obstinado de transformar essa crença em um método. Após meio século, ainda é o melhor guia em direção a um texto preciso e arguto como o de seu autor.
Comunicação em prosa moderna constitui obra pioneira na sistematização dos elementos lógicos e linguísticos imprescindíveis à boa organização do pensamento para a elaboração de textos consistentes, claros e coerentes. Corretos, enfim, na sua mais ampla acepção, que vai muito além da noção restrita de correção gramatical. O livro que atende a uma vasta gama de interessados no assuntos, servindo a estudantes de variados níveis e áreas, a professores de língua portuguesa no seu trabalho didático e, cada vez mais, a estudiosos da importantíssima especialidade de produção textual, mantém-se plenamente atual.
Este livro, devemo-lo aos nossos alunos, aqueles jovens a quem, no decorrer de longos anos, temos procurado ensinar não apenas a escrever, mas principalmente a pensar — a pensar com eficácia e objetividade, e a escrever sem a obsessão do purismo gramatical mas com a clareza, a objetividade e a coerência indispensáveis a fazer da linguagem, oral ou escrita, um veículo de comunicação e não de escamoteação de ideias. Estamos convencidos — e conosco uma plêiade de nomes ilustres — de que a correção gramatical não é tudo — mesmo porque, no tempo e no espaço, seu conceito é muito relativo — e de que a elegância oca, a afetação retórica, a exuberância léxica, o fraseado bonito, em suma, todos os requintes estilísticos preciosistas e estéreis com mais frequência falseiam a expressão das ideias do que contribuem para a sua fidedignidade. É principalmente por isso que neste livro insistimos em considerar como virtudes primordiais da frase a clareza e a precisão das ideias (e não é possível ser claro sem ser medianamente correto), a coerência (sem coerência não há legitimamente clareza) e a ênfase (uma das condições da clareza, que envolve ainda a elegância sem afetação, o vigor, a expressividade e outros atributos secundários do estilo).