Nicolau Maquiavel - Da Guerra E Da Paz

Maquiavel, imortalizado pela sua obra prima O Príncipe, observou, avaliou e criticou os acontecimentos políticos da sua época, com espírito frio, cético e atento.

Da Guerra E Da Paz constitui uma compilação dos textos mais emblemáticos de Maquiavel, cuja leitura faz hoje mais sentido que nunca.

A única razão válida que pode explicar uma guerra é enriquecer-se, empobrecendo o inimigo, e nenhum outro motivo existe para procurar a vitória e fazer conquistas que não seja o de fortalecer a si próprio e enfraquecer o adversário.

Portanto, se acontecer que a vossa vitória vos empobreça e a vossa conquista vos enfraqueça, o motivo que vos levou a empreender essa guerra deve, necessariamente, ter sido ultrapassado ou não ter sido atingido.

Enriquecerá com a vitória e a guerra o príncipe ou a República que tiver aniquilado o inimigo e se apodere dos seus bens. Empobrecerá, pelo contrário, o Estado que, na realidade, tenha derrotado o seu inimigo, mas sem o aniquilar e que, em vez de tomar para si as riquezas do adversário tenha de cedê-las ao seu exército.

Esse Estado será infeliz na derrota e mais infeliz ainda na vitória. Se sucumbe, terá de suportar o fardo que o inimigo lhe impõe; se vence, terá de sofrer as injustiças que os amigos lhe fazem, o que é ainda mais intolerável por ser mais iníquo, ainda mais quando o Estado é obrigado a sobrecarregar os seus súditos com novos impostos.

E se nele existe a menor parcela de humanidade, não poderá alegrar-se com uma vitória que atinge todos os seus súditos.

As boas e bem administradas Repúblicas da Antiguidade procuravam, com as suas vitórias, encher o tesouro público de ouro e prata, fazer dádivas ao povo, dispensar os súbditos do pagamento de impostos e celebrar as conquistas com fogos e festas.

As Repúblicas de hoje, quando fazem a guerra, começam por esvaziar o erário público, empobrecem em seguida o povo e não sabem, por isso, acautelá-lo contra os seus inimigos.