O discurso do modelo ideal de litoral pode ser apreendido no vídeo de promoção do Projeto Orla, uma política pública do governo federal1 voltada para a melhoria de gestão do litoral. No vídeo, a narradora inicia dizendo que o Brasil tem paisagens indescritíveis como “lindas praias, dunas, restingas, lagunas, mangues e falésias” ao longo de mais de 8.500km de litoral.

A narrativa continua dizendo que estes espaços, antes ocupados por vilarejos locais, agora são ocupados por cerca de 280 cidades e mais de 32 milhões de pessoas que geram empregos e dinamizam o desenvolvimento do litoral, mas, por outro lado, geram especulação imobiliária e poluem o meio-ambiente costeiro.

A narrativa continua dizendo que o crescimento do turismo “trouxe uma realidade nova e ameaçadora” e que as praias, bem de uso comum do povo, “foram pouco a pouco sendo invadidas e privatizadas”. Estas são as distopias que estão acontecendo no litoral brasileiro decorrentes de uma “ocupação e urbanização desordenada”.

Por isso, o vídeo promove o projeto Orla, com fins de “disciplinar o uso e a ocupação dos espaços e recursos da orla marítima”. A narrativa apresenta a versão do governo federal e de seus agentes públicos de como seria uma gestão ideal do litoral, baseada em uma gestão sustentável, na valorização das identidades locais, na manutenção das riquezas naturais, na solução de conflitos a partir do diálogo entre a população local e os governos municipal, estadual e federal.

Este E-book traz não apenas aprendizado sobre as distopias do litoral, mas também curiosidade em saber mais sobre uma área tão peculiar como o litoral, localizada na fronteira não apenas entre a imensidão azul do mar e o marrom da terra firme, mas também entre os sonhos por uma vida coletiva utópica no litoral e o pesadelo de suas distopias.

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