
No nosso país, em que o ofício de ensinar anda tão desprestigiado, como não comemorar uma terceira edição deste belo livro da professora Maria do Rosario? Como não emocionar-se com esta obra em que o lido e o vivido, em evidências tangíveis, mostram uma trajetória de formação de professora?
Ei-lo que, agora, para além dos sobressaltos iniciais, este livro é novamente dado a ver/ler e, nesta edição, está acrescido de imagens de documentos que estavam, nas edições anteriores, apenas transcritos.
Operando nos interstícios de vários documentos e em intimidade radical com livros e autores, Maria do Rosario devassa instantes, pensamentos e lembranças de sua formação que anunciam ações, decisões, afetos e sentimentos que, sabe-se, têm papel importante na vida cognitiva dos sujeitos.
Está aberta a via para que o/a leitor/a vá além da simples identificação com a protagonista e chegue à visão mais abstrata de estruturas imaginárias que se (re)constroem, se erguem e se desfazem em uma encenação visível de formação pessoal no embate entre os desejos humanos e os obstáculos do mundo.
Em um texto envolvente (não fosse a autora professora de Português e contumaz leitora de literatura) Maria do Rosario conseguiu — com uma coragem sem violência, uma força sem dureza e uma afetividade sem pudor — entrelaçar, em uma delicada ourivesaria, os documentos e suas imagens com uma pesquisa original e criteriosa, para fazê-los dialogar com a história.
Ancorada em contextos delineados com muita precisão e sutileza e ultrapassando a dimensão da memória pessoal e afetiva ou da mera exposição de curiosidades, esta obra chega à terceira edição capaz de apontar e reafirmar novas/outras perspectivas para o trabalho de educadores.
Em Sobressaltos reafirma a importância da reflexão de professores e professoras sobre sua experiência de formação. Trata-se de uma leitura capaz de mostrar no e em tempo o que somos e o que fomos, sempre integrado pelo que não foi mas que ainda pode vir a ser, ou melhor, o que provoca outras necessidades, como informa a autora ao final.
Leitura fundamental, já clássica e imperdível, é pela narrativa que a autora configura e torna pública sua experiência e, ao mesmo tempo, delineia seu estilo que se opera e se intensifica: nele há a emergência de vida, o tempo de dias e noites, o ler, o escrever, o formar-se… sugerindo, por fim, outros ângulos para pensarmos questões recorrentes na história de formação de professores/as na educação brasileira.











