Torturas E Torturados

A tortura é sempre incrível. Violenta de tal forma a consciência e imaginação dos homens e mulheres aprisionados no todo dia pacato de um mundo de máquinas e rotina do século XX que todos têm a tendência de afastá-la como uma possibilidade somente realizável em outros países, por outras gentes

, no Vietnã ou na Argélia. No fundo, esta incredulidade é construída menos sobre o horror que as torturas despertam que sobre nossa necessidade de fuga da realidade.
No Brasil como no mundo, há anos — poderia dizer que desde sempre — todo cidadão primariamente informado sabe que a polícia usa métodos violentos para intimidar ou interrogar ladrões e assassinos. Mas, por comodismo e pelo individualismo desumanizador característico de nossa época, esses métodos jamais foram combatidos eficientemente.
São considerados parte de nossa vida social, uma parte excusa é verdade, mas irremovível, como a pederastia ou a prostituição. A insensibilidade que criamos passou a considerar a brutalidade policial como uma parte suja, mas indispensável, do sistema de garantias coletivas. Só quando ultrapassa certos limites da racionalidade é que algumas vozes se levantam para condená-la. É o caso, por exemplo, das periódicas campanhas de metralhamento de assassinos nas favelas cariocas que, com igual periodicidade, provocam artigos de protesto na imprensa até que, fuzilados os bandidos mais notórios, tanto o tiroteio como o protesto adormecem.
O emprego de torturas, minuciosamente executadas no Brasil após o golpe militar de 1.° de abril de 1964, parece ter causado incredulidade em quase todo mundo e surpresa entre os bem pensantes. Por que esta surpresa? A violência acaso não existia antes, tolerada e protegida? Creio que a única explicação válida é que o traumatismo que as torturas de abril causaram na sociedade brasileira não foi moral, pois suas raízes estão no instinto de auto-defesa dos surpreendidos.
Do momento em que as torturas passaram a ser usadas em larga escala contra presos políticos, portanto para reprimir crimes de opinião, todos se sentiram ameaçados. Agora, são os comunistas e esquerdistas as vítimas. Amanhã, poderão ser os fascistas e direitistas. O método deixou de ser de defesa coletiva para transformar-se em ameaça generalizada.
Daí ter sido condenado até por alguns dos responsáveis por sua disseminação, membros do governo Castelo Branco.

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