A Casa Da Vovó

Símbolo do arbítrio e dos crimes de um regime, o Destacamento de Operações de Informações (DOI) ganhou de seus integrantes um codinome. Chamavam-no de Casa da Vovó. Ali militares e policiais trabalharam lado a lado durante os anos que muitos deles hoje consideram memoráveis.

Oficiais transformavam-se em “doutores” e delegados em “capitães”. Havia outros códigos naquele lugar: “clínica-geral”, “clientes”, “pacientes”, “paqueras”, “cachorros” e, dependendo de que lado se estava do muro, torturadores e terroristas. Centenas de agentes frequentaram-na e alguns chegaram mesmo a dar-lhe outro apelido: “Açougue”. Criada em São Paulo, seu modelo se espalhou pelo país. Na capital paulista ele ocupava um terreno entre as Ruas Tutoia e Tomás Carvalhal, no bairro do Paraíso. Primeiro foi conhecido como Operação Bandeirante, a Oban; depois, resolveram batizá-lo com a sigla que o tornou famoso: DOI. Até hoje muitos dos que trabalharam lá preferem chamá-la de Casa da Vovó, pois, como explicou um de seus agentes, “lá é que era bom”. A antinomia é evidente. Ainda mais quando esses homens e mulheres resolveram contar o que sabiam sobre as mortes de 66 pessoas, das quais 39 sob tortura após a prisão e outras 27 depois de gravemente baleadas durante a detenção no que foi descrito como emboscadas ou tiroteios. Em seus depoimentos surgiram relatos de como foram presas 19 pessoas que oficialmente desapareceram em meio ao chumbo daqueles anos. Há também corrupção, saque e traição.
Essa pesquisa nasceu em 2004. O objetivo inicial era esquadrinhar a polícia de São Paulo durante o regime inaugurado pelo golpe civil-militar de 1964. Até que dois coronéis da Polícia Militar me colocaram em contato com agentes que haviam trabalhado no Destacamento. Nenhum deles queria ver o seu nome ou a foto de seus rostos publicados no jornal. Aceitaram falar sob a condição do anonimato. Um deles chegou mesmo a trazer a tiracolo o coronel para que ele o acompanhasse nas entrevistas – a formalidade só foi dispensada no terceiro encontro.

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Símbolo do arbítrio e dos crimes de um regime, o Destacamento de Operações de Informações (DOI) ganhou de seus integrantes um codinome. Chamavam-no de Casa da Vovó. Ali militares e policiais trabalharam lado a lado durante os anos que muitos deles hoje consideram memoráveis. Oficiais transformavam-se em “doutores” e delegados em “capitães”. Havia outros códigos naquele lugar: “clínica-geral”, “clientes”, “pacientes”, “paqueras”, “cachorros” e, dependendo de que lado se estava do muro, torturadores e terroristas. Centenas de agentes frequentaram-na e alguns chegaram mesmo a dar-lhe outro apelido: “Açougue”. Criada em São Paulo, seu modelo se espalhou pelo país. Na capital paulista ele ocupava um terreno entre as Ruas Tutoia e Tomás Carvalhal, no bairro do Paraíso. Primeiro foi conhecido como Operação Bandeirante, a Oban; depois, resolveram batizá-lo com a sigla que o tornou famoso: DOI. Até hoje muitos dos que trabalharam lá preferem chamá-la de Casa da Vovó, pois, como explicou um de seus agentes, “lá é que era bom”. A antinomia é evidente. Ainda mais quando esses homens e mulheres resolveram contar o que sabiam sobre as mortes de 66 pessoas, das quais 39 sob tortura após a prisão e outras 27 depois de gravemente baleadas durante a detenção no que foi descrito como emboscadas ou tiroteios. Em seus depoimentos surgiram relatos de como foram presas 19 pessoas que oficialmente desapareceram em meio ao chumbo daqueles anos. Há também corrupção, saque e traição.
Essa pesquisa nasceu em 2004. O objetivo inicial era esquadrinhar a polícia de São Paulo durante o regime inaugurado pelo golpe civil-militar de 1964. Até que dois coronéis da Polícia Militar me colocaram em contato com agentes que haviam trabalhado no Destacamento. Nenhum deles queria ver o seu nome ou a foto de seus rostos publicados no jornal. Aceitaram falar sob a condição do anonimato. Um deles chegou mesmo a trazer a tiracolo o coronel para que ele o acompanhasse nas entrevistas – a formalidade só foi dispensada no terceiro encontro.

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