Há poucos anos, em 2008, o Brasil celebrava o bicentenário da transferência da corte real portuguesa para seu território. O Rio de Janeiro seria elevado à condição de capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, alterando radicalmente a realidade da ex-colônia.
Este marco seria apontado, anos mais tarde, como o início do processo de independência política do jovem país sul-americano. Iniciativas privadas e governamentais, comerciais e culturais, comemoravam e rememoravam o fato sob as mais diversas formas.
Livros sobre o chamado Período Joanino, compreendido entre 1808 a 1822, ano da independência formal, foram publicados na esteira da data e do crescente interesse que a efeméride despertava, e com grande sucesso de público.
Multiplicaram-se obras dentro e fora dos meios acadêmicos, de jornalistas e historiadores dispostos a contar ou explicar os fatos e versões de 1808. Os próximos capítulos da história do Brasil, por assim dizer, a independência e o primeiro reinado, também possuem extensas bibliografias.
Por sua vez, livros que tratem exclusivamente do período que antecedeu a emancipação são menos numerosos. Em virtude disto, buscamos e selecionamos documentos que contassem um pouco da história do Dia do Fico, este momento normalmente relegado a coadjuvante, introdutório e contextual dos fatos considerados maiores, como a chegada da Família Real em uma ponta do processo, e a independência formal como fim dele.
Ao privilegiarmos o Fico do príncipe Pedro, alçamo-lo da qualidade de trajeto para destino, de meio para fim.
A partir das determinações das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, que determinavam que o príncipe regente Pedro de Alcântara retornasse para Portugal a fim de “concluir seus estudos” estabelece-se um dos principais marcos do processo que culminaria com a independência do Brasil: o Dia do Fico.
O livro Diga Ao Povo Que Fico explora e analisa as cartas enviadas pelo jovem príncipe ao seu pai, o rei João VI, e também os ofícios, manifestos e notícias que a poderosa Divisão Auxiliadora remeteu para as Cortes portuguesas, e que davam conta dos acontecimentos e movimentos políticos deste lado do Atlântico.
Trata também das manifestações parlamentar e popular pedindo a permanência de Pedro no Brasil, que enfrentava a represália das forças militares sediadas no Rio de Janeiro que eram as fiéis guardiãs dos desígnios de Lisboa.
Através das cartas e demais documentos contidos no livro, o leitor perceberá a desobediência e o desafio às Cortes que seriam a afirmação da condição brasileira rumo à emancipação política definitiva de Portugal.