Aquela Terra Longínqua E Sossegada

A escrita histórica não fala do passado apenas para enterrá-lo.
Ela retoma-o continuamente, ultrapassando a condição de mero deslumbramento com o que não existe mais, com “aqueles tempos onde as coisas eram melhores”, ou como marco-zero da experiência, ponto de partida que “está sempre ali”, disposto a, com a sua sabedoria, nortear as vivências do presente.


Quando as coisas não vão bem volta-se a revirar o passado, passado que, a propósito, não precisa de nenhum resgate, pois quem precisa é sempre o presente. O historiador, rodeado por questões sem respostas, procura, como O Criador fez com o barro, a vida em meio aos documentos, ainda que uma vida provisória que busca aclarar a compreensão dos homens sobre eles mesmos.
Aquela Terra Longínqua E Sossegada está situado entre o indivíduo e seu potencial criativo e libertador e a impossibilidade de ele se dissociar de certas estruturas sociais. Temos, como ponto de partida, um homem considerado heroico pela história brasileira.
Trata-se de Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, brasileiro nascido na Colônia de Sacramento, hoje pertencente ao Uruguai, fundador do periódico Correio Braziliense, jornal escrito em Londres e que circulou entre 1808 e 1822 no mundo em língua portuguesa.
A historiografia brasileira tornou-o herói quando precisou dele e, quando não quis mais precisar, tocada por um nacionalismo desconfiado da presença estrangeira, tornou-o um gentleman inglês ou simplesmente um jornalista vendido.
A reflexão sobre a nacionalidade do fundador da imprensa brasileira permite, ao mesmo tempo, entrever como são delicadas as fronteiras de nacionalidade brasileira, forjada num contexto em que a imprensa, sob a vigilância da censura, esforçava-se para criar uma narrativa nacional.
Envolvido em projetos de tamanha importância, Hipólito foi remexido pela historiografia brasileira e sua nacionalidade tornou-se um problema. Era mister torná-lo brasileiro. O lugar de nascimento é o ponto de partida: tanto historiadores quanto jornalistas preocupados com a definição das fronteiras brasileiras voltaram ao passado para afirmar: Hipólito é brasileiro.

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Quando as coisas não vão bem volta-se a revirar o passado, passado que, a propósito, não precisa de nenhum resgate, pois quem precisa é sempre o presente. O historiador, rodeado por questões sem respostas, procura, como O Criador fez com o barro, a vida em meio aos documentos, ainda que uma vida provisória que busca aclarar a compreensão dos homens sobre eles mesmos.
Aquela Terra Longínqua E Sossegada está situado entre o indivíduo e seu potencial criativo e libertador e a impossibilidade de ele se dissociar de certas estruturas sociais. Temos, como ponto de partida, um homem considerado heroico pela história brasileira.
Trata-se de Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, brasileiro nascido na Colônia de Sacramento, hoje pertencente ao Uruguai, fundador do periódico Correio Braziliense, jornal escrito em Londres e que circulou entre 1808 e 1822 no mundo em língua portuguesa.
A historiografia brasileira tornou-o herói quando precisou dele e, quando não quis mais precisar, tocada por um nacionalismo desconfiado da presença estrangeira, tornou-o um gentleman inglês ou simplesmente um jornalista vendido.
A reflexão sobre a nacionalidade do fundador da imprensa brasileira permite, ao mesmo tempo, entrever como são delicadas as fronteiras de nacionalidade brasileira, forjada num contexto em que a imprensa, sob a vigilância da censura, esforçava-se para criar uma narrativa nacional.
Envolvido em projetos de tamanha importância, Hipólito foi remexido pela historiografia brasileira e sua nacionalidade tornou-se um problema. Era mister torná-lo brasileiro. O lugar de nascimento é o ponto de partida: tanto historiadores quanto jornalistas preocupados com a definição das fronteiras brasileiras voltaram ao passado para afirmar: Hipólito é brasileiro.

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