Escritos Sobre Escravidão

Escritos Sobre Escravidão traz textos, de diversos autores, produzidos nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, que tratam da escravidão e do direito à liberdade.

“Porventura foi outro o patrimônio que [nossos pais] nos deixaram senão nossa libertade? A mesma natureza que nos eximiu da imposição da servidão alheia não nos tornou livres ainda de viver ligados a um local por mais que o eleja nossa escolha voluntária?”, disse o Cacique de Potyravá aos seus irmãos por volta de 1628.

Não espanta a consciência de que a liberdade talvez seja o único e maior bem de todas as pessoas e para todos os povos. Não aprendemos apenas com Goethe no Fausto: “que só da liberdade e vida é digno / quem cada dia conquistá-las deve!”

Entre servidão e liberdade há muito sangue derramado. Afinal, qualquer forma de servidão é um ato de violência à condição humana, pois seria inconcebível alguém dignar se submeter à servidão voluntária, como propôs Étienne De La Boétie em De La Servitute Volontaire.

A liberdade não seria menos grave se fosse estado natural, no entanto, ela é condição humana, isto é, em toda e qualquer manifestação, a liberdade é condição e ato político. Pensá-la como estado natural seria submeter o humano à condição indistinta de ser perdido na natureza, lutando contra as forças naturais. Ao contrário, a liberdade é ato político que, uma vez conquistada, precisa de luta diária para ser mantida.

Não há maior patrimônio que os pais possam legar aos filhos que a própria liberdade: porventura foi outro o patrimônio que [nossos pais] nos deixaram senão nossa liberdade?

Proclamar a liberdade é, portanto, o primeiro e maior ato de soberania de qualquer povo. Ilude-se quem considera-se livre em meio a uma nação de escravos.

Liberdade não existe na solidão. O náufrago na ilha deserta jamais a experimenta. Liberdade é condição de soberania de um povo, portanto, condição política em primeiro lugar que, por sua vez, se manifesta como condição e direito humano inalienável.

Ilusão igualmente forte encontra-se na mente de quem se julga naturalmente livre: o fato de ir e vir não significa liberdade, mas apenas um aspecto dessa condição. A liberdade implica tanto a possibilidade de poder começar (arkhêin) quanto levar adiante, agir (práttein) conforme aquilo que se decidiu, exatamente no sentido grego revisto por Hannah Arendt em Entre O Passado E O Futuro.

Principiar e agir não acontecem senão na condição de vida social, de socius inter pares, de cidadãos entre seus semelhantes em uma sociedade livre.

A liberdade social (salvo pleonasmo), porém, não é ato fortuito nem isolado: livres são tão só as sociedades que se assenhoram de seus destinos, isto é, as sociedades soberanas, mesmo que a luta custe o sangue. A liberdade resulta de comprometimento e conquista humana – libertas quae sera tamen – liberdade ainda que tardia, visto que desde 1500 a 1889, passando por 1789 na Inconfidência Mineira, não houve liberdade sem luta.

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Escritos Sobre Escravidão traz textos, de diversos autores, produzidos nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, que tratam da escravidão e do direito à liberdade.

“Porventura foi outro o patrimônio que [nossos pais] nos deixaram senão nossa libertade? A mesma natureza que nos eximiu da imposição da servidão alheia não nos tornou livres ainda de viver ligados a um local por mais que o eleja nossa escolha voluntária?”, disse o Cacique de Potyravá aos seus irmãos por volta de 1628.

Não espanta a consciência de que a liberdade talvez seja o único e maior bem de todas as pessoas e para todos os povos. Não aprendemos apenas com Goethe no Fausto: “que só da liberdade e vida é digno / quem cada dia conquistá-las deve!”

Entre servidão e liberdade há muito sangue derramado. Afinal, qualquer forma de servidão é um ato de violência à condição humana, pois seria inconcebível alguém dignar se submeter à servidão voluntária, como propôs Étienne De La Boétie em De La Servitute Volontaire.

A liberdade não seria menos grave se fosse estado natural, no entanto, ela é condição humana, isto é, em toda e qualquer manifestação, a liberdade é condição e ato político. Pensá-la como estado natural seria submeter o humano à condição indistinta de ser perdido na natureza, lutando contra as forças naturais. Ao contrário, a liberdade é ato político que, uma vez conquistada, precisa de luta diária para ser mantida.

Não há maior patrimônio que os pais possam legar aos filhos que a própria liberdade: porventura foi outro o patrimônio que [nossos pais] nos deixaram senão nossa liberdade?

Proclamar a liberdade é, portanto, o primeiro e maior ato de soberania de qualquer povo. Ilude-se quem considera-se livre em meio a uma nação de escravos.

Liberdade não existe na solidão. O náufrago na ilha deserta jamais a experimenta. Liberdade é condição de soberania de um povo, portanto, condição política em primeiro lugar que, por sua vez, se manifesta como condição e direito humano inalienável.

Ilusão igualmente forte encontra-se na mente de quem se julga naturalmente livre: o fato de ir e vir não significa liberdade, mas apenas um aspecto dessa condição. A liberdade implica tanto a possibilidade de poder começar (arkhêin) quanto levar adiante, agir (práttein) conforme aquilo que se decidiu, exatamente no sentido grego revisto por Hannah Arendt em Entre O Passado E O Futuro.

Principiar e agir não acontecem senão na condição de vida social, de socius inter pares, de cidadãos entre seus semelhantes em uma sociedade livre.

A liberdade social (salvo pleonasmo), porém, não é ato fortuito nem isolado: livres são tão só as sociedades que se assenhoram de seus destinos, isto é, as sociedades soberanas, mesmo que a luta custe o sangue. A liberdade resulta de comprometimento e conquista humana – libertas quae sera tamen – liberdade ainda que tardia, visto que desde 1500 a 1889, passando por 1789 na Inconfidência Mineira, não houve liberdade sem luta.

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