
A ordem ‘Objeto-Verbo’ é bastante frequente no português arcaico, podendo ser o reflexo do deslocamento à esquerda, do foco identificacional, ou, do scrambling dentro do domínio de IP (Inflectional Phrase).
Este terceiro tipo de movimento, também designado de fronteamento por Parcero, não é permitido no português europeu moderno (PE), e é opcional no português arcaico.
Em Português Arcaico: Movimentos De Constituintes, Variação E Mudança Linguística, Lucia Parcero apresenta resultados da investigação sobre algumas das mudanças gramaticais que afetaram a ordem de constituintes na diacronia do Português.
A pesquisa relatada na obra parte de um corpus de textos escritos nos séculos XV, XVI e XVII – século XV: Crônica de D. Fernando (Fernão Lopes); Vidas de Santos (cópias quinhentistas não assinadas de um Manuscrito Alcobacense); século XVI: Livro das Obras de Garcia de Resende (Garcia de Resende); Ásia Década Primeira (Diogo do Couto); Peregrinação (Fernão Mendes Pinto); século XVII: Cartas Religiosas (António das Chagas); Cartas Familiares (Francisco Manuel de Melo).
Nesta obra, retomando seu estudo de 1999, Lucia Parcero convencionou chamar de fronteamento qualquer deslocamento de constituintes do VP (Verbal Phrase) para uma posição pré-verbal, incluindo as construções com clíticos pronominais que instanciam o fenômeno conhecido na literatura por interpolação.
O trabalho de Parcero foi pioneiro em investigar o fronteamento e a interpolação de constituintes concomitantemente e ainda tratar a interpolação como um tipo específico de fronteamento em português.
De acordo com a autora, os resultados da sua análise do fronteamento e da interpolação, sob a luz da Teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky), apontam para construções em processo de mudança estrutural.
Os fenômenos do fronteamento e da interpolação envolvem os constituintes complementos e adjuntos, pois os diversos constituintes da sentença, complemento ou adjunto, podiam, no português arcaico, ocupar uma posição pré-verbal.
Conforme os resultados apresentados no livro, sobre o fenômeno, não há uma diminuição na percentagem de elementos fronteados do século XV ao XVII.
